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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cézanne

Todos os caminhos nos levam a Cézanne

por Kelly de Souza | Artes Em 15 de Outubro de 1906, Paul Cézanne foi surpreendido por uma violenta tempestade. Tempestade das boas, igual às atuais, com chuva, trovões, deslizamentos, inundações, etc. (já ouviu falar nisso?). O pintor estava no campo, diante do cavalete, com a paleta na mão, quando a chuva o atingiu. Sua cabeça rodou e caiu desfalecido. Envelhecido e diabético, o pintor caiu enfermo, agravado por uma congestão pulmonar. Mas, teimoso, recusou-se a aceitar a doença, e no dia seguinte, ardendo em febre, voltou para seu atelier (Lauves). Com pinceladas vigorosas, mas claudicantes, trabalhou ainda  na tela “A cabana de Jourdan”, e trabalhou bem, como sempre. Uma semana depois, em 22 de outubro de 1906, aos 67 anos, o genial pintor não aguentou e morreu.
Cézanne é considerado por muitos como o fundador da arte moderna. “Quero saber para melhor sentir e sentir para melhor saber”, dizia ele, que nasceu na mesma cidade em que morreu, Aix-en-Provence. Aliás, o monte Santa Vitória, localizado ao pé da cidade, foi retratado por Cézanne em mais de 60 obras.
Tratou o espaço, o peso e a cor de forma única, assim como tratou seus amigos, como Monet, Pissarro e Renoir. Mas era um homem recluso, de poucos contatos, com pouca vontade de mostrar sua obra. Estudou Direito, estudou desenho, foi reprovado na Escola de Belas-Artes, foi grande amigo de Zola, e foi suportado financeiramente por seu pai, sem a pressão dos marchands, sem as exigências de compradores que tanto sufocavam os pintores no começo no século XIX. Impressionista, pós-impressionista, moderno, ousado, rejeitado no início pela crítica de Paris, e pelo público, e pelo orgulho, que contaminou sua relação com o escritor Zola (sentiu-se retratado no romance “A obra” que narra a vida de um pintor fracassado). Em 1886 herdou uma grande fortuna com a morte do pai, casou-se com Hortense Fiquet, com a qual já tinha um relacionamento antigo, e com quem tinha um filho (Paul), mas separou-se, e depois voltou a viver com ela.
Ao contrário de Van Gogh e Gauguin, Cézanne morreu com sua obra reconhecida e valorizada pelo público e pela crítica. Poucos pintores são tão biografados, estudados, debatidos e reverenciados como ele. É difícil encontrar um grande Museu sem suas obras, é difícil caminhar por Paris sem trombar com ele pelas esquinas, seja em bustos, nomes de ruas, gravuras, reproduções, etc.
A literatura não ficou atrás. O “Cezanne” de David Spence é para os jovens e ilustra aos iniciantes o monumental trabalho do pintor. O “Cezanne” de Hajo Duchting é para os seniores, para os que gostam dos detalhes de sua pintura. O “Cezannede Ulrike Becks-Malorny, é para quem gosta do pintor revelado pelo próprio pintor (coautor na obra).  Já “O Paraíso de Cezanne”, de Philippe Sollers (tradução de Ferreira Gullar) é um ensaio onde o autor narra não só o trabalho e a vida do pintor com os bastidores do impressionismo na Europa. Em “Requiem Para Cezanne”, de Bertrand Puard, o pintor é inserido num delicioso romance que envolve um retrato de Émile Zola, pintado pelo mestre e encontrado no Panthéon, quando também ocorre na região um assassinato. Cézanne é a figura central do romance, que traça um panorama artístico do início do século XX em Paris (belle époque). Quem prefere biografia pode encontrar boa informação emA Vida e Obra de Paul Cezanne”, de Sean Connolly, e quem quer intimidade não faltará prazer em ler “Cartas Sobre Cezanne”, de Rainer Maria Rilke.
Não faltam livros para mostrar a genialidade do pintor, que foi referência para muitas gerações de artistas. A proliferação de estilos, que hoje se perde na proliferação comercial, nunca deixou Cézanne isolado. Ele sempre ocupa todos os espaços, e está sempre em todos os aclives e declives da arte contemporânea.

Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura. Compulsiva por literatura,

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