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Poeta José Bandeira

TRIBUTO AO POETA JOSÉ BANDEIRA

Written by Antonio Francisco Alves Neto

13-Out-2009 às 17:14

Tinha orgulho das músicas que fazia, em especial do hino oficial de nossa Cidade. Mas, o seu grande sonho era ver seus poemas em um livro.

Como não poderia ser diferente, inicio a minha preleção com fragmento de um poema de José Bandeira: “Eu vi a Rosa colhendo/ As Rosas no meu jardim/ A Rosa colhia Rosas/ Numa alegria sem fim/ Deixei as Rosas de lado/ Colhi a Rosa para mim”.



José Bandeira cantou para as Rosas, para as Anas, para as Amélias, mas nada o inspirou mais que a sua musa Melquiades, esposa e amor de toda a vida. Isto ficou bem claro em sua obra poética.

Em verdade, as rosas trazem inspiração a todos os poetas; sobre esta assertiva, socorro-me de um poema que fiz: “A Rosa é uma flor de laranjeira/ Quando perfume/ A Rosa é uma flor de cacto/Quando espinho/ Rosa/ Flor/ Mulher”



Rosa, mulher ou flor, cria a dualidade na cabeça do poeta: falamos do nosso amor pela Rosa; ou falamos do frescor do perfume e da maciez das pétalas, de cores variadas.



Sobre o tema trago um outro poema, de um dos mais importantes poetas saquaremense: Latuf Isais Mucci: “A Rosa/ Reclusa sobre si mesma/ Aberta para a luz/ A rosa vive breve encanto/ Está certa de que vai morrer/ Despetalada em qualquer canto.



Não sei se neste momento não fosse melhor realçar que “as rosas não falam”, “simplesmente exalam o perfume...”, e falar do poeta Cartola: “(...) Queixo-me às rosas, mas que bobagem/ As rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam/ O perfume que roubam de ti/.(...)”.



Cartola, homem simples, pouco letrado, gênio da música e da poesia. José Bandeira, homem simples, pouco letrado, até mesmo pelas dificuldades de seu tempo, mas um gênio da poesia e da música. Servidor Municipal exemplar por quase 40 anos, foi redator de atas das sessões da Câmara Municipal de Saquarema. E foi exatamente na Casa Legislativa que convivi com o poeta. Nos anos de 1986, quando era Presidente o então Vereador Antônio Peres Alves, pude desfrutar do convívio diário do poeta, já que trabalhávamos juntos.



Tive a oportunidade de mostrar para José Bandeiras alguns poemas meus e ele dizia: “São bons Francisco”. A avaliação que fazia dos meus imaturos poemas era apenas uma forma carinhosa de incentivar-me. Uma gentileza sua para comigo. Ao final de nossas conversas, o pedia para declamar um poema, e ele fazia com gosto. Falava das Borboletas: “A borboleta Mimosa/ Deixou de beijar a Rosa/ Foi adeijar o Jasmim/ Deixou a linda Sucena/ A Violeta, a Verbena/ Voou para cima de mim”.



Não se esquecia de exaltar as “Morenas”. Morena que também exaltei no meu livro “Amor em Poesia”, Dizia José Bandeira: “Morena cor de canela/ Quando ficas na janela/ Debruçada a meditar,/ De repente a branca lua/ Lá do espaço flutua/ Nas ondas do teu olhar!/ (...) Morena, minha morena/ És bela mas não tens pena/ Do teu poeta cantor,/ Que sofre como cativo/ Pelo teu riso lascivo/ Por causa do teu amor!



Lembro-me bem que José Bandeira era um fumante inveterado; gostava tanto de fumar que escreveu um poema sobre o cigarro: “Meu cigarro/ Oh meu fiel companheiro/ Meu amigo verdadeiro/ Na alegria e na dor,/ Te acabas ardentemente/ E eu interiormente/ Vou sentindo o mesmo horror! (...)”.



Tinha orgulho das músicas que fazia, em especial do hino oficial de nossa Cidade. Mas, o seu grande sonho era ver seus poemas em um livro. Foi com este intuito que em 1986 José Bandeira me entregou 40 poemas inéditos datilografados. Levei até a Editora Mitavaí, no Rio de Janeiro, do Professor Ivan Cavalcante Proença. No dia 24 de abril de 1986 recebi uma carta do Professor Proença, com o orçamento para edição do livro. Infelizmente, naquela oportunidade não tivemos condições de editar o livro. Porém, este sonho de José Bandeira foi posteriormente realizado por sua família, que após a sua morte publicou o seu livro “O Poeta e as Musas”.



No final de sua vida José Bandeira ainda fazia poemas para falar de suas dores: “Cruciante dores que me atormentam/ Roubam a vida deste pobre ser/ As alegrias que de mim se ausentam/ Tornam mais triste este meu viver (...) Hoje já velho, triste, amargurado/ Pobre, doente, sem achar guarida/ Sou como herói que ficou derrotado/ Caído exausto de tremenda lida”.(...).

O poeta José Bandeira nasceu em 28 de maio de 1909. Passou para o astral superior em 23 de outubro de 1989, com 80 anos de idade. Hoje comemoramos 100 anos de seu nascimento. José Bandeira nos deixou um legado importante. Cantou à vida, à sua cidade, à musa, a flor, cantou sobretudo o amor. E como poetas não morrem, vivem para sempre em nossas memórias, estamos hoje, no centenário de seu nascimento, reverenciando a sua obra, que é eterna.



*Antônio Francisco Alves Neto é poeta, membro da Academia de Letras Rio-Cidade Maravilhosa e da Academia Saquaremense de Letras



(Publicado no Jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte, nº 160, julho de 2009, página 11)

http://www.jornalpoiesis.com/mambo/index.php?option=com_content&task=view&id=386&Itemid=45


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