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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Mudança de Atitude!!

atitude  
Gui Mohallem

pratique a gentileza
Provocadores de risos
Eles literalmente param o trânsito e ajudam a apaziguar os ânimos
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Elenice Brígida Lombardo
Vida Simples - 12/2011

Noite de primavera em São Paulo. Trânsito intenso de sexta feira. Num cruzamento de grande circulação de carros e ônibus, motoristas, caronas e pedestres param e observam uma cena inusitada: uma trupe de palhaços, ou melhor, clowns, faz uma performance na faixa de pedestres. Por 1 minuto e 18 segundos (tempo em que o farol permanece fechado), o asfalto preto e branco ganha um colorido alegre, que contrasta com o céu azulanil. As estripulias daquela turma, vestida de maneira engraçada, vêm acompanhadas de mensagens positivas: "Viver e não ter a vergonha de ser feliz"; "Dançar, dançar, dançar". É a deixa para a apoteose, a entrada da Bailarina, que percorre a faixa de pedestres em gigantescos saltos desengonçados.

A reação das pessoas é instantânea e destoa do semblante sempre amarrado do paulistano em um típico engarrafamento da cidade: aplausos, gritos entusiasmados e... risos, muitos risos. A cada resposta da pseudoplateia, o grupo responde em coro com "Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiií", "Vão com Deus". As pessoas se animam ainda mais. E o grupo não se cansa de agradecer ao receber a única moeda que aceita em troca: um sorriso.

A cena citada acima faz parte do cotidiano de uma trupe pra lá de engraçada, os Psicólogos do Trânsito, que recentemente ganhou a categoria de organização não governamental, ONG. Ela é formada por jovens que acreditam que a alegria e as risadas são um elixir para a rotina apressada, solitária e, algumas vezes, angustiante que vivemos nas grandes cidades. "Nosso objetivo é reduzir o estresse, humanizar e promover a paz no trânsito de São Paulo", afirma o idealizador da ONG Psicólogos do Trânsito, Guilherme Brandão. Para isso, ele faz uso do clown, uma espécie de palhaço com trejeitos mais teatrais, quando comparado com a versão feita no circo.

EXPERIÊNCIA PRÓPRIA
Quem vê Guilherme com uma fantasia de bailarina e saltitando no asfalto, não imagina que ele já foi um irritado condutor de automóvel. "Um dia, numa grande avenida, um carro entrou do nada na minha frente. Tive de brecar muito forte para não bater e não tive dúvida: fui atrás dele, emparelhei e comecei a xingar o motorista. Ele abriu o vidro e disse: ‘Pelo amor de Deus, minha mãe está no hospital’. Aquilo me desmontou", admite. "A partir daí, passei a prestar mais atenção nas coisas, a tentar entender que as pessoas até erram, mas muitas vezes motivadas por problemas. Principalmente, passei a ser mais humano, porque realmente fiquei sentido com essa situação", conclui.

Isso aconteceu há quase dois anos, período em que ele, coincidentemente, conheceu o trabalho de outra trupe de clowns que atuam em hospitais, os Doutores da Alegria. Admirado com o alcance que uma boa dose de risadas tem na vida das pessoas, Guilherme percebeu que esse também poderia ser o "remédio" para reduzir a aspereza gerada pelo trânsito.

A ideia foi tomando forma e o clique que faltava para o projeto ser concebido de fato aconteceu em uma noite, quando seguia para o curso de ator. Guilherme viu um garotinho descalço, roupa suja, puída, fazendo malabares no farol - exatamente o local onde hoje ele se apresenta com os Psicólogos do Trânsito. "Ninguém prestava atenção no menino, e ele só queria, sei lá, ganhar 20 centavos para comprar bala, ajudar em casa", lamenta. Foi então que teve um estalo: vestir se de bailarina, como palhaço, levar alegria ao farol e, quem sabe, tirar as pessoas desse entorpecimento, em que um não enxerga o outro.

Assim, com 1,88 metro e 112 quilos, Guilherme deu vida à intrépida Bailarina, em versão clown. A magia começa na transformação para a personagem: "Faço a maquiagem deixando minha criança despertar. É ela que anima as pessoas e traz o sorriso a tona", diz ele.

TERAPIA DO RISO
Mas como esse sonho individual se tornou uma ONG? Logo que começou a fazer teatro, Guilherme reencontrou dois amigos que não via há tempo, Tiago Fernandes Velloso, o doutor Bilé, e Marcos Bordenalli, o doutor Tchubiruba - ambos do atual Psicólogos do Trânsito. "Os dois ajudaram Guilherme a dar forma ao projeto. Eles definiram, por exemplo, que os shows, feitos na rua, teriam a alegria dos clowns aliada a mensagens inspiradoras. A escolha do nome - Psicólogos do Trânsito - foi uma forma de ousar, de remeter a uma terapia do riso e permitir o uso do jaleco.

Além do trio, a família de Guilherme aderiu em peso à causa. Na ala feminina estão Andréa Brandão, a doutora Fofuxa; Mara Brandão, doutora Pedipano; e Cristiane Pantrigo, doutora Pet; respectivamente, irmã, tia e cunhada do líder da trupe. E seu pai, Paulo Sergio Jorge, é o coordenador do grupo, hoje com 12 integrantes, considerando o pessoal de apoio.

O trabalho dos Psicólogos do Trânsito é independente e voluntário. Tudo o que construíram até agora foi com investimento pessoal. "Em um ano, gastei 27 mil reais. Deixei de lado minhas próprias contas para pagar o boleto de marcas e patentes, por exemplo. Compramos câmera fotográfica e de vídeo", conta Guilherme.

Além de promover o entretenimento no farol, a ONG, que difunde a máxima "Um dia sem sorrir é um dia desperdiçado", pretende ir além. A trupe planeja ministrar cursos profissionalizantes para pessoas carentes e firmar parcerias para auxiliar quem sofreu traumas relacionados ao trânsito.

O que é esse movimento?
Pratique Gentileza! é um projeto da revista VIDA SIMPLES, que tem como objetivo reconhecer e homenagear pessoas e disseminar iniciativas que estão mudando nossa maneira de nos relacionarmos com os outros e com nosso planeta.

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