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domingo, 16 de janeiro de 2011

Permacultura


Permacultura para transformar
Gaiatos e
Gaianos

Giuliana
Capello

Se existe uma coisa que caracteriza o nosso século é a necessidade de interação dos saberes, o diálogo entre o velho e o novo, enfim, a tal busca por um olhar mais holístico, multidisciplinar, capaz de mitigar os efeitos das mudanças no clima e outras estatísticas socioambientais prá lá de desanimadoras. Mas não é hora de ter medo ou ficar paralisado esperando o fim do mundo. Nesse sentido, vejo a permacultura como algo bastante completo, capaz de iluminar áreas obscurecidas por hábitos arraigados que precisam se transformar – e rapidamente – e também de nos trazer um alento, uma saída eficaz, elegante e esperançosa, que só depende da nossa ação. Para quem nunca ouviu falar em permacultura, mais uma vez vou apresentá-la de maneira resumida, através de princípios que falam mais do que qualquer conceituação complicada, dessas que encontramos em livros especializados no assunto.
Em poucas palavras, a permacultura, criada na década de 1970 pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, é um sistema de planejamento sustentável de áreas (que podem ser um sítio, uma casa ou um bairro inteiro) que procura criar interações entre os elementos naturais e antrópicos disponíveis localmente. O nome traz a ideia de agricultura permanente e de cultura permanente – e permanente, por sua vez, é um jeito de pensar em termos de sustentabilidade, certo?
Um de seus princípios ressalta a importância de observar e interagir com a natureza. Já reparou que nenhuma floresta precisa de jardineiro para podar, regar ou disseminar sementes? Por que será? Que elementos (animais, ventos, sol, chuvas, flora etc.) trabalham numa floresta para que tudo se desenvolva em equilíbrio contínuo? O que é possível aprender a partir dessa observação? Sem dúvida, muitas coisas, mas a principal delas talvez seja o entendimento de que tudo se dá por meio de conexões, ligações que constroem uma grande rede interdependente, em que ninguém está isolado. Numa figura geométrica, isso seria um círculo e não uma reta com começo, meio e fim...
Vamos em frente? Integrar ao invés de segregar é outro princípio importante. “Muitas mãos tornam o trabalho mais leve”. Aqui, a dica é unir forças, reunir pessoas para mutirões comunitários. Revitalizar a praça do seu bairro pode ser complicado se você estiver sozinho. Mas, se conseguir organizar um grupo para trabalhar no fim de semana, pode ficar surpreso com o resultado.
Para isso, é preciso planejar dos padrões aos detalhes, não enxergar a praça (ou floresta) a partir das árvores, entende? Bom mesmo é pensar nos efeitos de suas intervenções. Se a praça está na beira de um córrego, por exemplo, o melhor é reforçar a mata ciliar para dar espaço para a água no período das chuvas, e não construir um campinho de futebol ou parque infantil na beira do rio. Tire proveito das condições que se apresentam em cada lugar. Assim, use e valorize fontes e serviços renováveis. Se o sol é abundante, aproveite-o para captar energia e usá-la para aquecer água, secar frutas, cozinhar com fogão solar, secar roupas. Já se os ventos são componente forte em sua região, use-os para conseguir uma construção mais arejada, ventilada, saudável; aproveite sua força na disseminação de sementes e também na produção de energia. Isso é captar e armazenar energia.
Para escolher soluções e tecnologias, sempre que possível opte pelas pequenas e lentas, aquelas que você mesmo(a) conseguirá manter, sem a necessidade de contratação de terceiros. Assim, sua autonomia será maior com o tempo e os eventuais problemas serão proporcionais ao tipo de tecnologia que você escolher. Lembra do ditado que diz que quanto maior a altura, maior a queda? Então, se toda a plantação do seu sítio depende de maquinário caro e complexo, quebras e manutenções podem equivaler a um tombo e tanto...
Redistribuir o excedente também é lição de permacultura, assim como definir limites para o consumo, promover feiras de trocas, cuidar das pessoas e da Terra, não produzir lixo, monitorar e aceitar feedback. Por último, mas não menos importante, um princípio importante é usar e reagir às mudanças com criatividade. Como diria David Holmgren: “Ter visão não é ver as coisas como elas são, mas como elas podem ser”.



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