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sábado, 9 de abril de 2011

Literatura

Biografia revela que Fernando Pessoa tinha 127 facetas; relembre poemas

por Martha Lopes -
Capa da biografiaCapa da biografia
Um poeta criador de 127 personas, capazes de comporem versos cada qual com sua cara e sua personalidade. Esse é Fernando Pessoa, cuja versatilidade está inclusive em sua popularidade -- seu nome circula desde os mais altos círculos das universidades até e-mails com versos conhecidos que rodam pela internet.

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Uma nova biografia a respeito do poeta, "Fernando Pessoa: Uma Quase Autobiografia" (ed. Record), escrita por José Paulo Cavalcanti Filho, atesta que Pessoa era, na verdade, pouco imaginativo. O autor entrevistou figuras que conviveram com o artista, revirou sua obra e outras biografias. Descobriu que os relatos de seus poemas são, em grande parte, verídicos. Muito de sua vida, entretanto, segue nebulosa: ainda não se sabe ao certo se Pessoa era homossexual nem como ele teria criado os supostos 127 heterônimos que o biógrafo defende no livro.

A par das polêmicas, vale entender as facetas de Pessoa através de sua obra -- tão acessível e sensível universalmente:

O MÍSTICO
O "Poema do Menino Jesus" (assista à leitura de Maria Bethânia) é assinado pelo heterônimo Alberto Caeiro, que seria um homem do campo. Caeiro sempre confere a simplicidade de aproveitar sentimentos singelos da vida. Sua obra é marcada pela filosofia e pelo misticismo. Neste poema, Caeiro humaniza a figura de Jesus Cristo e o encontra menino, correndo pelos campos e fazendo travessuras. Cuida dele de forma maternal, em alusão, na realidade, à forma como trata da sua fé.
Trecho:
"Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro."

O PESSIMISTA
Álvaro de Campos é apresentado como um engenheiro que se formou na Escócia. Seus poemas retratam elementos do mundo moderno e urbano, com toques niilistas e pessimistas. Em "Tabacaria", o poeta reflete sobre sua insignificância diante do mundo e filosofa sobre a condição humana.
Trecho:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

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Foto de Fernando PessoaFoto de Fernando Pessoa
O CLÁSSICO
O terceiro dos mais conhecidos heterônimos de Pessoa, Ricardo Reis, dedica sua obra ao paganismo: refere-se aos deuses mitológicos e prega o "carpe diem" (aproveite o momento). Nos textos "Odes de Ricardo Reis", o poeta exalta as divindades, a natureza e a vida.
Trecho: "Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."

O PORTUGUÊS
Dentre as muitas facetas retratadas nos poemas assinados pelo próprio Fernando Pessoa, há aquela que se identifica com Portugal. Nesses versos, reconhecem-se traços da história e cultura do país, como alusões às navegações portuguesas. É o caso de "Mar Português".
Trecho: "Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena."

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