Oscar Cabral
O  córrego virou depósito de destroços, pedras e lixo no bairro da Posse,  em Teresópolis: completo despreparo para lidar com a catástrofe
ocupação
8 soluções para evitar outra tragédia
Sempre que a fúria das águas deixa um  rastro de destruição e mortes, o roteiro seguido pelos governantes  brasileiros é muito semelhante. Proferem-se frases de efeito, adotam-se  medidas paliativas, mas as grandes questões permanecem negligenciadas 
O cenário de devastação provocado pela tempestade que  desabou sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro há duas semanas,  ceifando 785 vidas segundo a contagem feita até a última sexta-feira,  escancarou as velhas fragilidades - ocupação irregular de encostas,  leniência na fiscalização, falta de investimentos em tecnologia e  infraestrutura - e o completo despreparo para lidar com uma catástrofe  de tal magnitude. Todos os sistemas eficientes de prevenção de desastres  do mundo foram concebidos depois de eventos como esse. Que a tragédia  da serra fluminense sirva para dar, enfim, o sentido de urgência para a  tarefa que vem sendo irresponsavelmente postergada no Brasil. Situação  que o secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e  Tecnologia, Luiz Antonio Barreto, resumiu em sessão no Congresso  Nacional, na semana passada: "Falamos muito, mas não fizemos nada". 
Não  há que inventar a roda quanto ao caminho a ser trilhado. A experiência  internacional mostra que, com a adoção disciplinada de um conjunto de  medidas - algumas mais complexas e caras; outras até bastante simples -,  é possível reduzir o número de mortos em desastres climáticos a níveis  mínimos. As oito soluções propostas a seguir são consensuais para um  grupo de especialistas ouvidos por VEJA, brasileiros e estrangeiros, que  já puderam aferir sua eficácia em áreas com características semelhantes  às da serra fluminense - caso do estado australiano de Queensland. Ali,  um em cada 100 000 habitantes morreu em razão da última tempestade. A  proporção registrada na serra do Rio é de noventa vezes esse número. Não  dá para esperar a próxima temporada de chuvas para agir.
1. MAPEAR AS ÁREAS DE RISCO
Existe  um consenso de que o primeiro e o mais básico passo para a prevenção de  tragédias desencadeadas por desastres naturais é traçar um retrato das  áreas mais vulneráveis de cada cidade - fruto de um levantamento  topográfico de altíssima precisão e de uma minuciosa pesquisa de campo  empreendida por geólogos. Só com isso é possível saber onde as pessoas  podem morar em segurança e de onde elas devem sair. "Trata-se de  instrumento de primeira necessidade para minimizar os riscos", afirma o  geólogo Willy Lacerda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pois  nenhuma das cidades da serra fluminense varridas pela fúria das águas  tem um mapa como esse. O Rio de Janeiro, apenas há um mês e depois de  muitas catástrofes, passou a contar com um. Para se ter uma ideia do  atraso brasileiro, Hong Kong fez o mesmo quatro décadas atrás - e  tornou-se, com a ajuda da medida, caso exemplar de prevenção aos  estragos das chuvas. 
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
2. Fiscalizar a ocupação irregular do solo
O  Código Florestal proíbe construções em topo de morros, em encostas com  inclinação superior a 45 graus e a menos de 30 metros de distância do  leito dos rios - só que é amplamente desrespeitado no território  nacional. O engenheiro José Alexandre Almeida, secretário de  Planejamento de Teresópolis, uma das cidades fluminenses vitimadas pelo  aguaceiro, dá o tom de como tais regras são encaradas - oficialmente:  "Sabe, não podemos ser muito rigorosos na cobrança das normas de  ocupação do solo. Do contrário, 80% dos habitantes teriam de deixar sua  casa". É preciso que deixem. Centenas de mortes ocorreram justamente  porque tanta gente não obedecia às normas, tanto pobres como ricos.  Falta uma fiscalização efetiva, o que passa por uma completa mudança de  cultura e métodos nas repartições públicas responsáveis. A tragédia da  semana retrasada mostra que não nos resta outra opção.
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
No lugar errado
As  regras para a ocupação de terras previstas pelo Código Florestal não  são cumpridas na maior parte da Região Serrana do Rio de Janeiro –
 Veja infográfico 
3. REMOÇÕES EM ÁREAS DE RISCO
A  cada nova tragédia, a imagem da água arrastando barracos morro abaixo  lança luz sobre a ocupação irregular de encostas - prática que conta  muitas vezes com o incentivo de políticos que fazem vista grossa à  permanência das casas em troca de votos. Ninguém de bom-senso discorda  de que quem vive nesses desfiladeiros deve ser retirado de lá pelo poder  público, que precisa contar com uma política habitacional capaz de lhes  prover um teto em local com infraestrutura básica. Remover as pessoas  de sua casa não é fácil. A maioria resiste, mesmo correndo flagrante  risco de vida - algo que a cidade de Blumenau tem conseguido minorar  (veja o quadro abaixo). Não raro, os moradores obtêm até amparo legal  para ficar. A experiência internacional mostra que nenhuma solução é tão  eficaz na prevenção a tragédias em regiões de topografia acidentada  quanto as remoções. Infelizmente, na serra fluminense elas são a  exceção.
PRAZO PARA EXECUTAR - Longo
CUSTO ALTO
Uma cortina de concreto
Como  funciona a chamada cortina atirantada, uma das soluções mais eficazes  para conter deslizamentos de terra em grandes maciços como o da Região  Serrana do Rio de Janeiro –
 Veja infográfico 
4. CONTENÇÃO DE ENCOSTASO  grupo de arquitetos e engenheiros ouvido por VEJA é unânime em afirmar  que, caso na serra fluminense houvesse obras de contenção de encostas em  extensão e qualidade suficientes, os deslizamentos teriam sido  minimizados - poupando centenas de vidas. Alegam as autoridades que  custa caro. De fato. Para se ter uma ideia, o preço do metro quadrado da  chamada cortina atirantada - enormes placas de concreto que sustentam  até 100 toneladas, indicadas para dar estabilidade a relevos como os da  serra do Rio - equivale ao valor do metro de pavimentação de uma estrada  nova. Em outros casos, de morros menores suscetíveis à erosão, o melhor  é utilizar o gabião, que faz a sustentação por meio de aramados. Também  é caro. Dada a eficácia dessas obras da engenharia, no entanto, não  resta dúvida de que o dinheiro público, em geral tão mal gasto,  encontraria aí uma boa aplicação.
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO ALTO
Casas firmes no chão
Uma  resistente teia de estacas fincadas a uma profundidade de até 25 metros  dá sustentação a casas construídas sobre terrenos inclinados e  geologicamente instáveis - e minimiza o risco de elas serem arrastadas  por avalanches como a da semana passada  - São usadas em média vinte  estacas para uma casa de 200 metros quadrados - 
Veja infográfico
5. CONSTRUÇÕES MAIS SEGURAS
Criar  regras para a construção de casas e prédios é atribuição de cada  município brasileiro. Espantosamente, na Região Serrana do Rio não  existem leis a respeito. A maioria dos alvarás é concedida ali sem que  se verifique sequer se a estrutura da edificação é capaz de suportar  pressões ou o deslizamento do solo. Faltam normas para cobrar o  essencial - que as casas fincadas em terrenos íngremes e instáveis sejam  erguidas com base em sondagens minimamente confiáveis e com fundações  que lhes proporcionem estabilidade. De novo, custa caro: em alguns  casos, o preço de uma fundação chega a ser equivalente ao de todo o  restante da obra. Para universalizar a prática, a alternativa adotada em  regiões vulneráveis a terremotos nos Estados Unidos e no Japão foi  trocar alvenaria por gesso na construção das casas. A estrutura fica em  torno de um sexto mais leve, demandando fundações também mais simples -  que custam até a metade do preço.
PRAZO PARA EXECUTAR - Longo
CUSTO ALTO
6. SISTEMA EFICAZ DE RADARES
Todos  concordam que a ausência no Brasil de um sistema integrado de radares  de alta precisão aumenta a vulnerabilidade diante de fenômenos como a  tempestade de duas semanas atrás. Na ocasião, o radar usado pelo  Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), fincado na serra,  estava quebrado. Apesar de existir um equipamento similar no Rio, que  flagrou as chuvas, as autoridades dos municípios que viriam a ser  atingidos não foram devidamente alertadas. É preciso investir para ter  algo como os Estados Unidos, onde há uma rede de 155 radares  interligados - todos com a avançada tecnologia Doppler, que permite  estimar a direção e a velocidade dos ventos antevendo com precisão o  local e a intensidade das precipitações (veja acima). O Brasil tem  apenas vinte desses radares em todo o território nacional, um sétimo do  que possuem os americanos. Seria necessário contar com pelo menos o  dobro para que a cobertura fosse considerada razoável. 
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO MÉDIO
Radares de alta precisão
Como funcionam os radares doppler - em quantidade ainda reduzida no Brasil - 
Veja infográfico
7. ALERTAS DE EMERGÊNCIAFaltam  às cidades serranas - assim como à maioria dos municípios brasileiros -  sistemas de alarme para avisar a população em situações de perigo. As  pessoas que moram em áreas de risco podem assim deixar sua casa a tempo.  Não é tecnologia sofisticada nem cara. Para se ter uma ideia, muitos  países instalam sirenes nas áreas mais vulneráveis, exemplo que a  prefeitura do Rio começou a replicar nas favelas cariocas. Em Areal,  município atingido pela torrente de duas semanas atrás, aferiu-se a  eficácia de algo tão simples. Ciente da chegada da chuva, o prefeito  usou um carro de som para recomendar aos moradores em áreas de risco que  deixassem suas casas. Ninguém morreu. Quanto mais treinada a população,  melhores os resultados. Em Los Angeles e em Tóquio, aprende-se como  proceder em caso de terremoto - até na escola. Exemplos a ser seguidos.
PRAZO PARA EXECUTAR - Curto
CUSTO BAIXO
8. COORDENAÇÃO DE AÇÕES
Para  oferecer resposta imediata depois de uma tragédia já consumada, é  necessário que os principais órgãos públicos da cidade já estejam  previamente integrados e obedeçam a protocolos estabelecidos para  situações de emergência. Ao ser acionada, cada equipe precisa saber  exatamente o que fazer de acordo com a natureza do problema, obedecendo a  um comando único. Em algumas das principais metrópoles do mundo, como  Madri e Nova York, funciona assim. O Rio de Janeiro acaba de montar um  sistema semelhante, conectando trinta órgãos que prestam serviços  públicos - boa iniciativa cuja eficácia precisa ser testada numa crise. É  inédito no Brasil. O que predomina nesse campo é o completo improviso,  como ocorreu no último dia 14. Ali se viu um exemplo de solidariedade  das pessoas comuns - e um show de incompetência por parte das  autoridades.
PRAZO PARA EXECUTAR - Curto
CUSTO BAIXO
Fontes:  Willy Lacerda, especialista em geotécnica da Universidade Federal do  Rio de Janeiro, Paulo Rosman, professor da Coppe, UFRJ, Ana Luiza Coelho  Netto, especialista em geomorfologia da UFRJ, Alberto Ortigão,  geotécnico da UFRJ, Luiz Otávio Martins Vieira, diretor-presidente da  Geo-Rio, Humberto Vianna, secretário nacional da Defesa Civil, Marcelo  Motta, Serviço Geológico do Estado - RJ, Marcio Ackerman, geógrafo e  consultor ambiental, José Alexandre Almeida, secretário de Planejamento  de Teresópolis, Etiquio Calazans (engenheiro especialista em radares),  Marcelo Seluchi (CPTEC/Inpe), Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)ocupação
8 soluções para evitar outra tragédia
Sempre que a fúria das águas deixa um rastro de destruição e  mortes, o roteiro seguido pelos governantes brasileiros é muito  semelhante. Proferem-se frases de efeito, adotam-se medidas paliativas,  mas as grandes questões permanecem negligenciadas 
O cenário de devastação provocado pela tempestade que desabou  sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro há duas semanas, ceifando 785  vidas segundo a contagem feita até a última sexta-feira, escancarou as  velhas fragilidades - ocupação irregular de encostas, leniência na  fiscalização, falta de investimentos em tecnologia e infraestrutura - e o  completo despreparo para lidar com uma catástrofe de tal magnitude.  Todos os sistemas eficientes de prevenção de desastres do mundo foram  concebidos depois de eventos como esse. Que a tragédia da serra  fluminense sirva para dar, enfim, o sentido de urgência para a tarefa  que vem sendo irresponsavelmente postergada no Brasil. Situação que o  secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e  Tecnologia, Luiz Antonio Barreto, resumiu em sessão no Congresso  Nacional, na semana passada: "Falamos muito, mas não fizemos nada". 
Não  há que inventar a roda quanto ao caminho a ser trilhado. A experiência  internacional mostra que, com a adoção disciplinada de um conjunto de  medidas - algumas mais complexas e caras; outras até bastante simples -,  é possível reduzir o número de mortos em desastres climáticos a níveis  mínimos. As oito soluções propostas a seguir são consensuais para um  grupo de especialistas ouvidos por VEJA, brasileiros e estrangeiros, que  já puderam aferir sua eficácia em áreas com características semelhantes  às da serra fluminense - caso do estado australiano de Queensland. Ali,  um em cada 100 000 habitantes morreu em razão da última tempestade. A  proporção registrada na serra do Rio é de noventa vezes esse número. Não  dá para esperar a próxima temporada de chuvas para agir.
1. MAPEAR AS ÁREAS DE RISCO
Existe  um consenso de que o primeiro e o mais básico passo para a prevenção de  tragédias desencadeadas por desastres naturais é traçar um retrato das  áreas mais vulneráveis de cada cidade - fruto de um levantamento  topográfico de altíssima precisão e de uma minuciosa pesquisa de campo  empreendida por geólogos. Só com isso é possível saber onde as pessoas  podem morar em segurança e de onde elas devem sair. "Trata-se de  instrumento de primeira necessidade para minimizar os riscos", afirma o  geólogo Willy Lacerda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pois  nenhuma das cidades da serra fluminense varridas pela fúria das águas  tem um mapa como esse. O Rio de Janeiro, apenas há um mês e depois de  muitas catástrofes, passou a contar com um. Para se ter uma ideia do  atraso brasileiro, Hong Kong fez o mesmo quatro décadas atrás - e  tornou-se, com a ajuda da medida, caso exemplar de prevenção aos  estragos das chuvas. 
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
2. Fiscalizar a ocupação irregular do solo
O  Código Florestal proíbe construções em topo de morros, em encostas com  inclinação superior a 45 graus e a menos de 30 metros de distância do  leito dos rios - só que é amplamente desrespeitado no território  nacional. O engenheiro José Alexandre Almeida, secretário de  Planejamento de Teresópolis, uma das cidades fluminenses vitimadas pelo  aguaceiro, dá o tom de como tais regras são encaradas - oficialmente:  "Sabe, não podemos ser muito rigorosos na cobrança das normas de  ocupação do solo. Do contrário, 80% dos habitantes teriam de deixar sua  casa". É preciso que deixem. Centenas de mortes ocorreram justamente  porque tanta gente não obedecia às normas, tanto pobres como ricos.  Falta uma fiscalização efetiva, o que passa por uma completa mudança de  cultura e métodos nas repartições públicas responsáveis. A tragédia da  semana retrasada mostra que não nos resta outra opção.
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
No lugar errado
As  regras para a ocupação de terras previstas pelo Código Florestal não  são cumpridas na maior parte da Região Serrana do Rio de Janeiro –
 Veja infográfico 
3. REMOÇÕES EM ÁREAS DE RISCO
A  cada nova tragédia, a imagem da água arrastando barracos morro abaixo  lança luz sobre a ocupação irregular de encostas - prática que conta  muitas vezes com o incentivo de políticos que fazem vista grossa à  permanência das casas em troca de votos. Ninguém de bom-senso discorda  de que quem vive nesses desfiladeiros deve ser retirado de lá pelo poder  público, que precisa contar com uma política habitacional capaz de lhes  prover um teto em local com infraestrutura básica. Remover as pessoas  de sua casa não é fácil. A maioria resiste, mesmo correndo flagrante  risco de vida - algo que a cidade de Blumenau tem conseguido minorar  (veja o quadro abaixo). Não raro, os moradores obtêm até amparo legal  para ficar. A experiência internacional mostra que nenhuma solução é tão  eficaz na prevenção a tragédias em regiões de topografia acidentada  quanto as remoções. Infelizmente, na serra fluminense elas são a  exceção.
PRAZO PARA EXECUTAR - Longo
CUSTO ALTO
Uma cortina de concreto
Como  funciona a chamada cortina atirantada, uma das soluções mais eficazes  para conter deslizamentos de terra em grandes maciços como o da Região  Serrana do Rio de Janeiro –
 Veja infográfico 
4. CONTENÇÃO DE ENCOSTASO  grupo de arquitetos e engenheiros ouvido por VEJA é unânime em afirmar  que, caso na serra fluminense houvesse obras de contenção de encostas em  extensão e qualidade suficientes, os deslizamentos teriam sido  minimizados - poupando centenas de vidas. Alegam as autoridades que  custa caro. De fato. Para se ter uma ideia, o preço do metro quadrado da  chamada cortina atirantada - enormes placas de concreto que sustentam  até 100 toneladas, indicadas para dar estabilidade a relevos como os da  serra do Rio - equivale ao valor do metro de pavimentação de uma estrada  nova. Em outros casos, de morros menores suscetíveis à erosão, o melhor  é utilizar o gabião, que faz a sustentação por meio de aramados. Também  é caro. Dada a eficácia dessas obras da engenharia, no entanto, não  resta dúvida de que o dinheiro público, em geral tão mal gasto,  encontraria aí uma boa aplicação.
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO ALTO
Casas firmes no chão
Uma  resistente teia de estacas fincadas a uma profundidade de até 25 metros  dá sustentação a casas construídas sobre terrenos inclinados e  geologicamente instáveis - e minimiza o risco de elas serem arrastadas  por avalanches como a da semana passada  - São usadas em média vinte  estacas para uma casa de 200 metros quadrados - 
Veja infográfico
5. CONSTRUÇÕES MAIS SEGURAS
Criar  regras para a construção de casas e prédios é atribuição de cada  município brasileiro. Espantosamente, na Região Serrana do Rio não  existem leis a respeito. A maioria dos alvarás é concedida ali sem que  se verifique sequer se a estrutura da edificação é capaz de suportar  pressões ou o deslizamento do solo. Faltam normas para cobrar o  essencial - que as casas fincadas em terrenos íngremes e instáveis sejam  erguidas com base em sondagens minimamente confiáveis e com fundações  que lhes proporcionem estabilidade. De novo, custa caro: em alguns  casos, o preço de uma fundação chega a ser equivalente ao de todo o  restante da obra. Para universalizar a prática, a alternativa adotada em  regiões vulneráveis a terremotos nos Estados Unidos e no Japão foi  trocar alvenaria por gesso na construção das casas. A estrutura fica em  torno de um sexto mais leve, demandando fundações também mais simples -  que custam até a metade do preço.
PRAZO PARA EXECUTAR - Longo
CUSTO ALTO
6. SISTEMA EFICAZ DE RADARES
Todos  concordam que a ausência no Brasil de um sistema integrado de radares  de alta precisão aumenta a vulnerabilidade diante de fenômenos como a  tempestade de duas semanas atrás. Na ocasião, o radar usado pelo  Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), fincado na serra,  estava quebrado. Apesar de existir um equipamento similar no Rio, que  flagrou as chuvas, as autoridades dos municípios que viriam a ser  atingidos não foram devidamente alertadas. É preciso investir para ter  algo como os Estados Unidos, onde há uma rede de 155 radares  interligados - todos com a avançada tecnologia Doppler, que permite  estimar a direção e a velocidade dos ventos antevendo com precisão o  local e a intensidade das precipitações (veja acima). O Brasil tem  apenas vinte desses radares em todo o território nacional, um sétimo do  que possuem os americanos. Seria necessário contar com pelo menos o  dobro para que a cobertura fosse considerada razoável. 
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO MÉDIO
Radares de alta precisão
Como funcionam os radares doppler - em quantidade ainda reduzida no Brasil - 
Veja infográfico
7. ALERTAS DE EMERGÊNCIAFaltam  às cidades serranas - assim como à maioria dos municípios brasileiros -  sistemas de alarme para avisar a população em situações de perigo. As  pessoas que moram em áreas de risco podem assim deixar sua casa a tempo.  Não é tecnologia sofisticada nem cara. Para se ter uma ideia, muitos  países instalam sirenes nas áreas mais vulneráveis, exemplo que a  prefeitura do Rio começou a replicar nas favelas cariocas. Em Areal,  município atingido pela torrente de duas semanas atrás, aferiu-se a  eficácia de algo tão simples. Ciente da chegada da chuva, o prefeito  usou um carro de som para recomendar aos moradores em áreas de risco que  deixassem suas casas. Ninguém morreu. Quanto mais treinada a população,  melhores os resultados. Em Los Angeles e em Tóquio, aprende-se como  proceder em caso de terremoto - até na escola. Exemplos a ser seguidos.
PRAZO PARA EXECUTAR - Curto
CUSTO BAIXO
8. COORDENAÇÃO DE AÇÕES
Para  oferecer resposta imediata depois de uma tragédia já consumada, é  necessário que os principais órgãos públicos da cidade já estejam  previamente integrados e obedeçam a protocolos estabelecidos para  situações de emergência. Ao ser acionada, cada equipe precisa saber  exatamente o que fazer de acordo com a natureza do problema, obedecendo a  um comando único. Em algumas das principais metrópoles do mundo, como  Madri e Nova York, funciona assim. O Rio de Janeiro acaba de montar um  sistema semelhante, conectando trinta órgãos que prestam serviços  públicos - boa iniciativa cuja eficácia precisa ser testada numa crise. É  inédito no Brasil. O que predomina nesse campo é o completo improviso,  como ocorreu no último dia 14. Ali se viu um exemplo de solidariedade  das pessoas comuns - e um show de incompetência por parte das  autoridades.
PRAZO PARA EXECUTAR - Curto
CUSTO BAIXO
Fontes:  Willy Lacerda, especialista em geotécnica da Universidade Federal do  Rio de Janeiro, Paulo Rosman, professor da Coppe, UFRJ, Ana Luiza Coelho  Netto, especialista em geomorfologia da UFRJ, Alberto Ortigão,  geotécnico da UFRJ, Luiz Otávio Martins Vieira, diretor-presidente da  Geo-Rio, Humberto Vianna, secretário nacional da Defesa Civil, Marcelo  Motta, Serviço Geológico do Estado - RJ, Marcio Ackerman, geógrafo e  consultor ambiental, José Alexandre Almeida, secretário de Planejamento  de Teresópolis, Etiquio Calazans (engenheiro especialista em radares),  Marcelo Seluchi (CPTEC/Inpe), Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)O cenário de devastação provocado pela tempestade que desabou  sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro há duas semanas, ceifando 785  vidas segundo a contagem feita até a última sexta-feira, escancarou as  velhas fragilidades - ocupação irregular de encostas, leniência na  fiscalização, falta de investimentos em tecnologia e infraestrutura - e o  completo despreparo para lidar com uma catástrofe de tal magnitude.  Todos os sistemas eficientes de prevenção de desastres do mundo foram  concebidos depois de eventos como esse. Que a tragédia da serra  fluminense sirva para dar, enfim, o sentido de urgência para a tarefa  que vem sendo irresponsavelmente postergada no Brasil. Situação que o  secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e  Tecnologia, Luiz Antonio Barreto, resumiu em sessão no Congresso  Nacional, na semana passada: "Falamos muito, mas não fizemos nada". 
Não  há que inventar a roda quanto ao caminho a ser trilhado. A experiência  internacional mostra que, com a adoção disciplinada de um conjunto de  medidas - algumas mais complexas e caras; outras até bastante simples -,  é possível reduzir o número de mortos em desastres climáticos a níveis  mínimos. As oito soluções propostas a seguir são consensuais para um  grupo de especialistas ouvidos por VEJA, brasileiros e estrangeiros, que  já puderam aferir sua eficácia em áreas com características semelhantes  às da serra fluminense - caso do estado australiano de Queensland. Ali,  um em cada 100 000 habitantes morreu em razão da última tempestade. A  proporção registrada na serra do Rio é de noventa vezes esse número. Não  dá para esperar a próxima temporada de chuvas para agir.
1. MAPEAR AS ÁREAS DE RISCO
Existe  um consenso de que o primeiro e o mais básico passo para a prevenção de  tragédias desencadeadas por desastres naturais é traçar um retrato das  áreas mais vulneráveis de cada cidade - fruto de um levantamento  topográfico de altíssima precisão e de uma minuciosa pesquisa de campo  empreendida por geólogos. Só com isso é possível saber onde as pessoas  podem morar em segurança e de onde elas devem sair. "Trata-se de  instrumento de primeira necessidade para minimizar os riscos", afirma o  geólogo Willy Lacerda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pois  nenhuma das cidades da serra fluminense varridas pela fúria das águas  tem um mapa como esse. O Rio de Janeiro, apenas há um mês e depois de  muitas catástrofes, passou a contar com um. Para se ter uma ideia do  atraso brasileiro, Hong Kong fez o mesmo quatro décadas atrás - e  tornou-se, com a ajuda da medida, caso exemplar de prevenção aos  estragos das chuvas. 
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
2. Fiscalizar a ocupação irregular do solo
O  Código Florestal proíbe construções em topo de morros, em encostas com  inclinação superior a 45 graus e a menos de 30 metros de distância do  leito dos rios - só que é amplamente desrespeitado no território  nacional. O engenheiro José Alexandre Almeida, secretário de  Planejamento de Teresópolis, uma das cidades fluminenses vitimadas pelo  aguaceiro, dá o tom de como tais regras são encaradas - oficialmente:  "Sabe, não podemos ser muito rigorosos na cobrança das normas de  ocupação do solo. Do contrário, 80% dos habitantes teriam de deixar sua  casa". É preciso que deixem. Centenas de mortes ocorreram justamente  porque tanta gente não obedecia às normas, tanto pobres como ricos.  Falta uma fiscalização efetiva, o que passa por uma completa mudança de  cultura e métodos nas repartições públicas responsáveis. A tragédia da  semana retrasada mostra que não nos resta outra opção.
PRAZO PARA EXECUTAR - Médio
CUSTO BAIXO
No lugar errado
As  regras para a ocupação de terras previstas pelo Código Florestal não  são cumpridas na maior parte da Região Serrana do Rio de Janeiro –
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