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segunda-feira, 14 de março de 2011

Plantas Aromáticas

Biofach 2011 - as fotos e reflexões...

Já não era sem tempo, publicar aqui algumas das fotos e reflexões desta Biofach 2011, sete anos depois da primeira vez que visitei esta feira mundial (2004), pude constatar que o sector está a evoluir a um ritmo impressionante... No bom e no mau sentido... Um sector que apresenta um crescimento médio de 10%/ano na atual conjuntura mundial deve ser encarado com maior atenção, sobretudo no nosso país, em que a agricultura biológica e algumas fileiras emergentes a ela associadas parecem ainda reunir pouco respeito…

À entrada da Feira.

Com o nosso cliente (Ton Vink) e o meu companheiro de viagem (Nuno Azeredo), um dos novos produtores portugueses, dos muitos presentes na feira. O sector das plantas aromáticas foi o que mais visitantes portugueses levou a esta feira mundial!!! E esta, hein?!!!

Alguns dos produtos expostos pelo nosso cliente, todos de enorme qualidade, com limonete português (muito apreciado por sinal).

Eram várias as empresas dedicadas ao comércio das PAM.

No atual contexto sócio-económico e político mundial, os produtores de PAM europeus parecem assumir novamente uma posição favorável face ao mercado, já que os tradicionais países produtores de outras latitudes (Egipto, Líbia, Tunísia) não conseguem garantir estabilidade e a qualidade desejada no fornecimento de matérias-primas.

Bonito!!!


Demorámos cerca de 4 dias a visitar a gigantesca feira… O mundo inteiro estava lá, menos Portugal…

As máquinas para pequenas indústrias estavam bem representadas, tal como nunca vi noutra feira do género. Sintoma do panorama atual da economia?!

Uma planta muito procurada pelo mercado de momento: o alcaçuz (Glycyrrhiza glabra).

Quando ainda estamos a fazer de conta que pretendemos fazer uma gestão sustentável da floresta, esta atitude está já realmente implementada noutros países da Europa, sobretudo no Leste, onde cogumelos e frutos silvestres são geridos por várias empresas agro-florestais, e colocados nos mercados internacionais.

Muito boa esta cerveja. A feira correu melhor a seguir!!!

Belo stand o desta companhia de cosméticos Bio.

Zona de concurso ao melhor produto da feira. Os visitantes podem votar.

A promover relações internacionais com produtoras espanholas (Barcelona) de vinho de uvas biológicas, medalhados na feira. O vinho era mesmo bom…

Espanha estava representada em grande.

A Irlanda também.

Até a Grécia…

E o Chile.

Tailândia.

Bulgária.

Irão.

Roménia.

África.

Com países como Moçambique e Angola… e Guiné-Bissau…

E foi neste stand que senti VERGONHA em ser português… o país mais pobre do mundo (Burkina Faso), aquele que ninguém conhece, também lá estava… E Portugal?! Nunca esteve e não se sabe quando estará… Apenas alguns produtores de azeite, vinho, e uma empresa de roupa de criança certificada, que individualmente expuseram os seus produtos. Também lá estava uma instituição que supostamente representa a agricultura biológica portuguesa, mas deu uma péssima imagem. O stand esteve sempre fechado… Lamentável…

Um grupo de portugueses que reuniu com um dos fundadores da Biofach.

Apesar de tudo, os dias foram todos muito bem aproveitados… E cá estamos nós, no pós-feira, a reunir para discutir importantes assuntos…

E a neve, que embora tímida, fez a sua apresentação.

Nuremberga à noite, muito bonito.

Haaa, a calma romântica e bucólica da fria Baviera...

Por toda a Europa é assim. Em qualquer canto, em qualquer praça, um mercado de frutas, flores e legumes. Muitos são produtores dos arredores. Cá é mais grandes superfícies e importar o que comemos…

Nunca deixa de me espantar a atitude dos povos mais a Norte com os seus rebentos… Mesmo com um frio de rachar, toda a gente passeia e não perde o mercado por nada.









Esta é uma cadeia de pequenos supermercados, basic, que só vende produtos bio ou sustentáveis. Já se encontra espalhada por várias cidades alemãs.

É um prazer comprar num sítio assim. O lema desta cadeia é “Bio para todos”.

Algumas reflexões:

O sector da agricultura biológica apresenta um crescimento gradual e estável, fruto do aumento da procura, a nível mundial;

Grandes companhias de produtos alimentares já compreenderam este fenómeno e tem investido no sector. Em muitos casos, estes investimentos tem contribuído para o seu descrédito, já que a forma de exploração perde toda a sua perspectiva holística e passam a valer os argumentos económicos habituais, válidos para qualquer forma de exploração agrícola convencional (com isto não quero dizer que quem produz não cumpre com os regulamentos);

Muitos consumidores já não estão dispostos a consumir um produto Bio produzido em enormes monoculturas, preferem manter-se fieis aos fundamentos e práticas básicas da agricultura biológica, que não dependem apenas da autorização de utilização de um adubo ou pesticida pelos regulamentos em Bio.


Para contrariar esta situação, muitas empresas optam por se diferenciar do Bio e tem evoluído para outras certificações, tais como:



Demeter - Agricultura biodinâmica. A marca mais popular e mais “credível” para muitos consumidores europeus. Garante a produção holística. Infelizmente, sai muito caro implementar… Mas sinto-me muito tentado…


Biosuisse - Uma das certificações mais “difíceis” da Europa (há quem lhe chame protecionismo inteligente). Uma coisa é certa, os suíços sabem defender muito bem o seu solo e a sua agricultura, mesmo em situações delicadas, como a agricultura de montanha.


Uma pesca mais sustentável urge, os recursos estão a acabar. Temos bons exemplos em Portugal, com a pesca à linha do atum, que se faz nos Açores e com a Dolphin safe, que garante que os golfinhos não são abatidos.


Fairtrade – gera uma certa desconfiança nalguns consumidores, já teve melhores dias…


Global organic textile standard - A certificação para os texteis Bio. A oferta de roupa de algodão Bio e de variedades de algodão melhoradas (de forma a não ser necessário tingir artificialmente pela indústria) aumentou exponencialmente. Talvez porque o algodão é das culturas a nível mundial com maior consumo de pesticidas... Infelizmente a procura é bem maior do que a oferta, ainda muito segmentada. Ora aqui está uma boa oportunidade de mercado!!!

O leque de alimentos disponíveis está muito afunilado quanto à sua disponibilidade, relativamente há 50 anos atrás. Por muito estranho que pareça, a agro-indústria atual tem conduzido à redução dramática da biodiversidade alimentar. Curiosamente, a tendência dos consumidores europeus demonstra uma apetência enorme pela redescoberta dos alimentos marginalizados, muitos deles fundamentais para uma equilibrada dieta alimentar. Prova disso, a incrível oferta de frutos silvestres de diversas espécies, muitas delas espontâneas em Portugal (Rosa canina, Sorbus aucuparia, Crataegus monogyna, etc) verificada na feira.


No nosso país o sector precisa com urgência de maior organização e de maior apoio, sobretudo o da sociedade civil. É muito importante que todos percebam que quando compram um produto alimentar barato, terão que pagar a médio/longo prazo outras contas, ambientais (desertificação, águas poluídas, habitats destruídos), saúde pública (comemos mais, mas temos novos problemas de saúde, como a obesidade, hipertensão, etc. Poupar agora, significa ter que pagar mais tarde, tarde demais. Temos que comer tanto??! Porque não comer menos, mas melhor?! Não será teu alimento, teu medicamento?!

Sete anos depois, valeu bem a pena a visita. A agricultura está de volta, os agricultores, as suas práticas sustentáveis e o seu investimento são necessários, na paisagem e na sociedade contemporânea, mais do que nunca. Assim saibamos todos compreender.

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