FOTOS DO RIO ANTIGO
Imperdível a matéria da Veja-Rio de 4/3/09 sobre o acervo de fotos do Rio Antigo do Instituto Moreira Salles. Para ir até lá, clique aqui.
Igualmente imperdível a matéria da Veja-Rio de 20/5/09 sobre o lançamento do livro Augusto Malta e o Rio de Janeiro. Para ir até lá, clique aqui.
CENTENÁRIA AV. RIO BRANCO
Banco Central, antiga Caixa de Amortização, da primeira geração de prédios da então Avenida Central, contrastando com prédio moderno.
Em crônica de 22 de março de 1929, escreveu Manuel Bandeira:
O Rio festejou no dia 8 o jubileu da sua grande Avenida. Todas as casas de comércio hastearam a bandeira nacional. À noite houve corso. [...]
A avenida estava linda como sempre. Ela não precisa de decorações suplementares para tomar aspecto festivo. Na realidade de todos os dias já é uma festa perpétua para os olhos: alegria dos cariocas e dos provincianos em trânsito. [...]
Nasceu quase de improviso. Em um mês derrubaram centenas de paredes, trabalho em que se empregou desde a dinamite até a junta de bois. E houve um bloco de casarões que foi arrasado pelo incêndio proposital. A abertura da avenida não foi uma obra friamente projetada e executada. Antes parecia uma obra de paixão. [...]
Houve pessimistas que duvidavam do êxito da empresa. Vamos ter uma avenida de escombros, diziam eles. Nem em cinco anos se edificará... Os preços dos terrenos são excessivos para a escassez atual de dinheiro...
Depois apareceram os críticos que a olho julgaram errado o eixo de abertura. Isso tudo provocava um sem-número de comentários. Foi assim que se rasgou a Avenida, nesse ambiente de viva e controvertida curiosidade.
E como foi por ela que começou a transformação urbanista do Rio, ela ficou como símbolo daquela transformação. (Manuel Bandeira, Crônicas inéditas I, Editora CosacNaify, pp. 177-8)
O Rio festejou no dia 8 o jubileu da sua grande Avenida. Todas as casas de comércio hastearam a bandeira nacional. À noite houve corso. [...]
A avenida estava linda como sempre. Ela não precisa de decorações suplementares para tomar aspecto festivo. Na realidade de todos os dias já é uma festa perpétua para os olhos: alegria dos cariocas e dos provincianos em trânsito. [...]
Nasceu quase de improviso. Em um mês derrubaram centenas de paredes, trabalho em que se empregou desde a dinamite até a junta de bois. E houve um bloco de casarões que foi arrasado pelo incêndio proposital. A abertura da avenida não foi uma obra friamente projetada e executada. Antes parecia uma obra de paixão. [...]
Houve pessimistas que duvidavam do êxito da empresa. Vamos ter uma avenida de escombros, diziam eles. Nem em cinco anos se edificará... Os preços dos terrenos são excessivos para a escassez atual de dinheiro...
Depois apareceram os críticos que a olho julgaram errado o eixo de abertura. Isso tudo provocava um sem-número de comentários. Foi assim que se rasgou a Avenida, nesse ambiente de viva e controvertida curiosidade.
E como foi por ela que começou a transformação urbanista do Rio, ela ficou como símbolo daquela transformação. (Manuel Bandeira, Crônicas inéditas I, Editora CosacNaify, pp. 177-8)
À esquerda o antigo Morro do Castelo, que veio a ser demolido na década de 1920, dando lugar à Esplanada do Castelo (ou simplesmente "Castelo"). Foto de autor desconhecido obtida no site do BNDES.
No dia 15 de novembro de 1905, a Gazeta de Notícias informava:
"Hoje deve ser entregue ao trânsito público a primeira Avenida construida no rio de Janeiro, que recebeu o nome de Central [atual Av. Rio Branco]. Como é igualmente sabido, esta grande artéria será oficialmente inaugurada hoje pelo Sr. presidente da República, que cortará as fitas que a fecham. Quase todos os prédios concluídos terão as suas fachadas ornamentadas com bandeiras e galhardetes."
À esquerda, o edifício pós-moderno número 1 da Av. Rio Branco. À direita, o edifício art déco A Noite, primeiro arranha-céu do Rio, de 1929. Ao centro o Barão de Mauá.
No dia seguinte, noticiava o Jornal do Commercio:
"Raras vezes um acontecimento publico terá attrahido a uma extensa área da cidade mais gente do que a inauguração da Avenida Central attrahio hontem desde pela manhã á zona urbana, vulgarmente conhecida pelo nome de ‘centro’. [...]
O facto demonstra o grande interesse da população pelo importante melhoramento que o actual Governo lega á Capital do paiz. Esse interesse, apressamo-nos em dizel-o, é de todo justificado. O extrangeiro que visitar agora a nossa Capital ja tem na Avenida um bello exemplo do progresso material que o Rio de Janeiro se sente resolvido a realizar."
Avenida Rio Branco fotografada por Von Peter Fuss em meados dos anos 30. O edifício A Noite ainda se destacava como um dos poucos arranha-céus. A própria Candelária, a construção mais alta do Rio antes do advento dos arranha-céus, também é visível na foto (à esquerda).
Em Rio de Janeiro: Uma cidade no tempo (organizado por Evelyn Furquim Werneck Lima et al. e editado em 1992 pela Prefeitura do Rio), lemos:"Até o final do século XIX, o centro da cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal da república do Brasil, tinha a aparência de uma antiga cidade colonial. [...] Entretanto, a nova estrutura política do país exigia a adequação do espaço urbano às necessidades da economia braileira, que se integrava ao mercado mundial através da exportação de café. [...] Indicado em 1902 para Prefeito do Distrito Federal, Pereira Passos foi responsável pela maior reforma urbana executada até então. [...] Do ponto de vista econômico, a remodelação da cidade consistiu primordialmente na transferência e modernização do porto do Rio de Janeiro [...] Seguindo o modelo de outros grandes centros latino-americanos, priorizou-se a construção de grandes avenidas que facilitassem a circulação urbana e embelezassem a cidade. [..] A Av. Central, atual Av. Rio Branco, rasgou o centro da cidade no sentido norte-sul, às custas da demolição de centenas de casas."
Em 1912, com o falecimento do Barão do Rio Branco, a Av. Central recebeu seu nome.
Avenida Rio Branco fotografada por Augusto Malta
Outra foto do Malta
Da primeira geração de prédios da Av. Rio Branco, sobrevivem: Banco Central (no número 30, antiga Casa de Amortização), sede do Iphan (46, prédio que pertenceu à Docas de Santos), Casa Simpatia (92, bem estreita para preservar a adjacente Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte), prédio comercial (155), Clube Naval (180, esquina com Almirante Barroso) e - na Cinelândia - Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e Centro Cultural da Justiça Federal.Theatro Municipal com Carlos Gomes na frente
Rio Branco hoje: uma avenida importante, mas sem o charme de outrora
Postagem originalmente publicada em 15/11/05 quando a Avenida completou cem anos, e agora acrescida de fotos e textos novos. Fotos modernas do editor do blog. As notícias de jornais antigos foram obtidas no site O RIO DE JANEIRO ATRAVÉS DOS JORNAIS de João Marcos Weguelin. Outras fotos do Rio Antigo podem ser vistas clicando-se no marcador "fotos do Rio Antigo" abaixo. Saiba mais sobre a Avenida Central fazendo o download da versão em PDF do livro O Rio de Janeiro na época da Avenida Central.
IMAGENS DO RIO ANTIGO
EDUARDO CAMÕES
Se existe algo que se aproxima da máquina do tempo, é a arte de Eduardo Camões, que reconstitui um Rio de Janeiro que já não existe mais. Na Introdução ao belo livro de Camões Rio Antigo — Old Rio, Ivan Horácio Costa conta como foi que o pintor (que fizera incursões pelas marinhas, pelo hiper-realismo etc.) resolveu dedicar-se ao tema do Rio de outrora: "Em uma livraria de Brasília, tipo ‘sebo’, descobre alguns livros antigos sobre o Rio de Janeiro e, estranhamente, sente saudades, não só do mar e nem só do Rio, mas de toda uma nostálgica época passada que lhe parece inteiramente familiar! Toma, então, a resolução de voltar para o Rio e registrar, através de sua pintura, as imagens que seus bisavós, avós e pais haviam conhecido..."
Conheça melhor esse notável retratista do Rio Antigo visitando o seu site.
AUGUSTO MALTA
Conheça melhor esse notável retratista do Rio Antigo visitando o seu site.
Aqueduto da Carioca em 1875
Ipanema, Leblon e Lagoa em 1904
Rua Jardim Botânico em 1880
Lagoa em 1871
Enseada de Botafogo em 1820
AUGUSTO MALTA
Augusto César Malta de Campos (1864-1957) foi fotógrafo oficial da Prefeitura do então Distrito Federal, nomeado por Pereira Passos.
De 1903 a 1936, documentou um período de notáveis transformações urbanísticas e arquitetônicas na cidade, acompanhando as grandes remodelações do Rio de Janeiro de seu tempo, como o desmonte do Morro do Castelo, a abertura da Av. Central, a Exposição Nacional de 1908 e a Exposição Internacional de 1922, em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil.
Malta também registrou a execução e a inauguração de obras públicas, monumentos, prédios históricos, carnavais antigos, os corsos e as batalhas de flores, flagrantes do momento, o surgimento das favelas, notícias e acontecimentos da época, em obra de inestimável valor histórico para a preservação da memória da cidade. (Texto obtido no site do Museu da Imagem e do Som. Uma dica: para ler a matéria da Veja-Rio de 20/5/09 sobre o livro Augusto Malta e o Rio de Janeiro clique aqui.)
MARC FERREZ
De 1903 a 1936, documentou um período de notáveis transformações urbanísticas e arquitetônicas na cidade, acompanhando as grandes remodelações do Rio de Janeiro de seu tempo, como o desmonte do Morro do Castelo, a abertura da Av. Central, a Exposição Nacional de 1908 e a Exposição Internacional de 1922, em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil.
Malta também registrou a execução e a inauguração de obras públicas, monumentos, prédios históricos, carnavais antigos, os corsos e as batalhas de flores, flagrantes do momento, o surgimento das favelas, notícias e acontecimentos da época, em obra de inestimável valor histórico para a preservação da memória da cidade. (Texto obtido no site do Museu da Imagem e do Som. Uma dica: para ler a matéria da Veja-Rio de 20/5/09 sobre o livro Augusto Malta e o Rio de Janeiro clique aqui.)
Aqueduto da Carioca
Bairro da Glória. Observe o relógio da Glória, estátua de Pedro Álvares Cabral, chaminé da City (esquerda), Igreja da Glória e o Pão de Açúcar ao fundo.
Morro do Castelo, já demolido
(no seu lugar estende-se a Esplanada do Castelo, repleta de prédios)
Vista aérea em 1906.
Trecho da rua dos Ourives (atual Miguel Couto) entre a rua da Alfândega e do Hospício (atual Buenos Aires).
Avenida Rio Branco.
Quiosque na rua Frei Caneca (1906).
Avenida Delfim Moreira (Praia do Leblon) em 1919.
MARC FERREZ
Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro em 1843, apenas quatro anos após a fotografia ser inventada oficialmente por Louis Daguerre, na França. No início da década de 1860 começou a fotografar. Em 1867, abriu seu próprio estabelecimento, no Rio. Em 1870, se tornou fotógrafo da Marinha Imperial.
A produção de Ferrez se torna histórica e mais intensa a partir de 1875, quando passa a trabalhar na Comissão Geológica do Império, o que o leva a viajar pelo Brasil. Ferrez constitui a partir daí o acervo mais rico de imagens do Brasil, sem paralelo com outros fotógrafos. (Eder Chiodetto, Folha de São Paulo de 13/11/2006.)
FAMÍLIA FERREZ
GEORGES LEUZINGER
A produção de Ferrez se torna histórica e mais intensa a partir de 1875, quando passa a trabalhar na Comissão Geológica do Império, o que o leva a viajar pelo Brasil. Ferrez constitui a partir daí o acervo mais rico de imagens do Brasil, sem paralelo com outros fotógrafos. (Eder Chiodetto, Folha de São Paulo de 13/11/2006.)
Aqueduto da Carioca transformado em viaduto para bondes, foto de 1896
Botafogo na década de 1870 (observe o Corcovado ao fundo, sem o Cristo!)
Escola Militar da Praia Vermelha e Pão de Açúcar
(sem o bondinho!) em torno de 1885
Real Gabinete Português de Leitura (existente até hoje) em 1895 com o bonde puxado a burro em frente
Largo do Humaitá em 1895 (hoje cheio de prédios)
Igreja da Ordem Terceira de N. S. do Carmo na atual Praça XV (foto de 1870); ao lado a Igreja de N. S. do Carmo da Antiga Sé ainda sem a torre alta acrescida em 1905 e mais ao fundo o Convento do Carmo.
FAMÍLIA FERREZ
Ícone da fotografia nacional, Marc Ferrez (1843-1923) deixou um legado de belíssimos retratos do Brasil. Sua obra foi continuada pelos filhos Luciano (1884-1955) e Júlio (1881-1946) e pelo neto Gilberto (1908-2000), numa produção que resultou em 8 000 negativos doados pela família ao Arquivo Nacional. Parte desse patrimônio foi exposto no Centro Cultural Banco do Brasil no início de 2008. As fotos a seguir foram dessa exposição.
Luciano Ferrez: Ressaca na Praia da Glória (praia esta que, com o Aterro do Flamengo, deixou de existir)
Luciano Ferrez: Praia de Ipanema em 1945
Luciano Ferrez: Lapa vista do Morro de Santo Antônio
Luciano Ferrez: Cinelândia (observe o Palácio Monroe ao fundo)
Júlio Ferrez: Pedra do Arpoador em 1918
Júlio Ferrez: Desmonte do Morro do Castelo. Observe a Igreja de Santa Luzia, que existe até hoje, mas longe, bem longe do mar!
GEORGES LEUZINGER
Durante a década de 1860, este suíço radicado na capital do Império desde 1832 realizou um trabalho sistemático de documentação fotográfica do Rio de Janeiro. Incluindo cenas urbanas, vistas de Niterói, da Serra dos Órgãos e de Teresópolis, suas paisagens e panoramas surgiam apenas duas décadas depois da invenção da daguerreotipia — fazendo do artista não apenas um dos pioneiros dessa atividade no Brasil, ao lado de Augusto Stahl, Revert Henry Klumb e, mais tarde, Marc Ferrez, mas um de seus grandes inovadores no século XIX. (Texto extraído do folheto da exposição "Georges Leuzinger: Um pioneiro do século XIX".)
Chafariz do Mestre Valentim e (ao fundo, da esquerda para a direita) Convento do Carmo, Igreja de N. S. do Carmo e Igreja de N.S. do Carmo da Antiga Sé, ainda existentes na atual Praça 15 de Novembro
Lagoa Rodrigo de Freitas e (ao fundo, da esquerda para a direita) Morro Dois Irmãos, Pedra da Gávea e outras montanhas, em torno de 1866
Dedo de Deus, Teresópolis
Igreja de Santa Luzia, Rio de Janeiro, em torno de 1865 (atualmente situada na Avenida Presidente Antônio Carlos, a igreja ficou distante do mar)
Clique nos marcadores abaixo para conhecer outras postagens deste blog sobre o Rio de outrora. Dicas: na Veja-Rio de 4/3/09 você encontrará uma bela matéria sobre o acervo de fotos do Rio Antigo do Instituto Moreira Salles. Para ir até lá, clique aqui.
LIMA BARRETO
TEXTOS DE CYRO DE MATTOS E LIMA BARRETO, COM FOTOS DO RIO DE JANEIRO DA ÉPOCA EM QUE VIVEU O ESCRITOR (1881-1922)
Augusto Malta, bonde no Largo da Carioca, 1904
Augusto Malta, Estação das Barcas (existente até hoje na Praça Quinze), 1920
LIMA BARRETO
texto de Cyro de Mattos
texto de Cyro de Mattos
O mulato Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881. Viera ao mundo numa data aziaga para os espíritos supersticiosos, uma sexta-feira, dia de Nossa Senhora dos Mártires. E o que se chama destino trama contra ele cedo, a começar pela perda da mãe, seis anos depois de ter nascido. Parte do espírito rebelde e a cor de mulato têm raízes na figura do pai, João Henriques, um simples tipógrafo, filho de uma antiga escrava com um madeireiro português. O pai não lhe reconhece a paternidade.
A cor de mulato instala-se na alma como algo que fortemente atormenta, fator negativo que, estimulado pelo meio social, vai acompanhá-lo até o fim da vida, causando obstáculos. Gera dramas ligados a uma sociedade opressiva de que ele pretende vingar-se.
A imagem reinante do Brasil literário em fins do século dezenove e início do vinte era a de uma fragilidade no estado de espírito de nossos escritores. Nossa literatura possuía um corpo eclético formado pelo cruzamento e entrecruzamento de várias correntes estéticas, tendências ou estilos. Vivia-se no Rio com o sonho da França. E a Literatura, forma ampla de conhecimento da vida, era concebida por alguns como o sorriso da sociedade. Ninguém podia ser chamado de culto se não falasse nos heróis gregos e no cerco de Tróia. Como parte do contexto que primava pelo elogio à cultura de fora, com os valores formais da arte tradicional sem conteúdo nacional, aparece uma figura peculiar de escritor, a do boêmio, tipo pitoresco que se dava ao prazer de contar anedotas, fazer trocadilhos, nas portas de café e confeitarias.
A cor de mulato instala-se na alma como algo que fortemente atormenta, fator negativo que, estimulado pelo meio social, vai acompanhá-lo até o fim da vida, causando obstáculos. Gera dramas ligados a uma sociedade opressiva de que ele pretende vingar-se.
A imagem reinante do Brasil literário em fins do século dezenove e início do vinte era a de uma fragilidade no estado de espírito de nossos escritores. Nossa literatura possuía um corpo eclético formado pelo cruzamento e entrecruzamento de várias correntes estéticas, tendências ou estilos. Vivia-se no Rio com o sonho da França. E a Literatura, forma ampla de conhecimento da vida, era concebida por alguns como o sorriso da sociedade. Ninguém podia ser chamado de culto se não falasse nos heróis gregos e no cerco de Tróia. Como parte do contexto que primava pelo elogio à cultura de fora, com os valores formais da arte tradicional sem conteúdo nacional, aparece uma figura peculiar de escritor, a do boêmio, tipo pitoresco que se dava ao prazer de contar anedotas, fazer trocadilhos, nas portas de café e confeitarias.
A sedução de Paris, as agremiações literárias, o hábito dos saraus artísticos, a mania de conferências e o uso das letras na escrita sonora, em seu poder verbal pobre de significado e percepção do drama humano, que teve em Coelho Neto um expoente, testemunham um Brasil Literário vivendo um clima de ócio cultural e inutilidade criativa.
O criador de Policarpo Quaresma emerge dessa ambiência cultural moldada em atitudes importadas da Europa, reclamava o Brasil dentro do Brasil, querendo ter o direito de se fazer ouvir aos que não cuidavam de se interessar pelas coisas verdadeiras de nossa realidade. Munido de um estilo liberto do complexo colonial, brasileiro na maneira de ver, sentir e narrar as coisas nossas tomadas emprestadas ao cotidiano, Lima Barreto vai buscar suas personagens nos subúrbios do Rio de Janeiro, lá onde gravitam funcionários públicos, pequenos negociantes, médicos com pequena clínica, tenentes de diferentes milícias e seresteiros.
Magistral caricaturista, memorialista dos bons, Lima Barreto é o escritor brasileiro que mais olhou a si mesmo na arte de escrever. Refletiu-se tanto em várias de suas personagens que se transformou forçosamente numa personagem, convertendo o seu “alter ego” em solidão, solidariedade e humor, transpostos de modo pungente em suas criações. Em Recordações do escrivão Isaías Caminha aborda a vida de um rapazinho do interior, tentando se situar como gente no meio social que lhe é hostil. Em Isaías Caminha há situações que ofendem com os preconceitos de cor e classe, da mesma maneira que ocorreu com o escritor em seu calvário. Numa época que vinha há pouco tempo da Abolição, sem que os sonhos dos negros fossem realizados, permanecendo na sociedade fortes marcas do preconceito racial, Isaías Caminha trará na pele o estigma da cor de mulato, causa do fracasso para adaptar-se e vencer no meio social.
Augusto Malta, Rua da Ajuda (que ligava o Largo da Ajuda, atual Cinelândia, à Rua São José, margeando o Morro do Castelo, no que é hoje trecho da Av. Rio Branco), 1903O criador de Policarpo Quaresma emerge dessa ambiência cultural moldada em atitudes importadas da Europa, reclamava o Brasil dentro do Brasil, querendo ter o direito de se fazer ouvir aos que não cuidavam de se interessar pelas coisas verdadeiras de nossa realidade. Munido de um estilo liberto do complexo colonial, brasileiro na maneira de ver, sentir e narrar as coisas nossas tomadas emprestadas ao cotidiano, Lima Barreto vai buscar suas personagens nos subúrbios do Rio de Janeiro, lá onde gravitam funcionários públicos, pequenos negociantes, médicos com pequena clínica, tenentes de diferentes milícias e seresteiros.
Magistral caricaturista, memorialista dos bons, Lima Barreto é o escritor brasileiro que mais olhou a si mesmo na arte de escrever. Refletiu-se tanto em várias de suas personagens que se transformou forçosamente numa personagem, convertendo o seu “alter ego” em solidão, solidariedade e humor, transpostos de modo pungente em suas criações. Em Recordações do escrivão Isaías Caminha aborda a vida de um rapazinho do interior, tentando se situar como gente no meio social que lhe é hostil. Em Isaías Caminha há situações que ofendem com os preconceitos de cor e classe, da mesma maneira que ocorreu com o escritor em seu calvário. Numa época que vinha há pouco tempo da Abolição, sem que os sonhos dos negros fossem realizados, permanecendo na sociedade fortes marcas do preconceito racial, Isaías Caminha trará na pele o estigma da cor de mulato, causa do fracasso para adaptar-se e vencer no meio social.
Lima Barreto é um dos grandes romancistas da cidade do Rio de Janeiro, ao lado dos precursores Manuel Antônio de Almeida e Machado de Assis, possuindo a cidade no último o ponto literário mais elevado. No fim da vida passava por decepções e desapontamentos constantes, doía saber que não tinha a estima dos contemporâneos. Não parecia um ser humano, mas uma coisa qualquer, algo ambulante com a sensação de que falhara como escritor e na ascensão social. Não conseguira o canudo doutoral nem ascendera na burocracia. Carregava ainda o fardo de que falhara sob o ponto de vista sentimental. Passara a idade de ter o amor, fugira dele para não se envolver com outro sofrimento e não fosse prejudicado na sua missão de glória. Vivera sem o amor de uma mulher, amante ou esposa, sem o amor de mãe, falecida quando tinha seis anos. A vida passava assim para ele com os dias de um calendário triste. As sombras do destino cercavam-no por todos os lados, dizendo-lhe que era um excluído e sem amor vivera.
O criador de grandes personagens, o amanuense Isaias Caminha, o cético Gonzaga de Sá, o major Policarpo Quaresma, a pobre e rejeitada Clara dos Anjos, vai se agarrar à literatura no fim da vida com todas as forças que pudesse reunir e ao álcool que lhe acarretaria a morte.
Precursor dos temas alinhados na Semana da Arte Moderna de 22 em São Paulo, Lima Barreto deixou um legado que explora a vida em sua problemática social. Faturou seu modelo literário como testemunho de prospecção social no magma nacional, que seria retomado mais tarde no romance regionalista nordestino de 30.
Solitário, sem o reconhecimento literário que merecia ter em sua época, faleceu aos 41 anos de idade.
O criador de grandes personagens, o amanuense Isaias Caminha, o cético Gonzaga de Sá, o major Policarpo Quaresma, a pobre e rejeitada Clara dos Anjos, vai se agarrar à literatura no fim da vida com todas as forças que pudesse reunir e ao álcool que lhe acarretaria a morte.
Precursor dos temas alinhados na Semana da Arte Moderna de 22 em São Paulo, Lima Barreto deixou um legado que explora a vida em sua problemática social. Faturou seu modelo literário como testemunho de prospecção social no magma nacional, que seria retomado mais tarde no romance regionalista nordestino de 30.
Solitário, sem o reconhecimento literário que merecia ter em sua época, faleceu aos 41 anos de idade.
Augusto Malta, Rua Uruguaiana, 1907
Marc Ferrez, Avenida Central, 1906. Observe o Morro do Castelo à esquerda.
A QUESTÃO DOS TELEFONES
Crônica de Lima Barreto publicada em 1921
Andam sempre os jornais com uma birra, uma briga por causa do serviço telefônico desta cidade. Implicam sempre com a Light, mas creio que esta poderosa companhia é simplesmente pseudônimo de uma outra que tem um nome alemão.
Das muitas inutilidades que, para mim, está cheia esta vida, o telefone é uma delas. Passam-se anos e anos que não ponho um fone ao ouvido; e, de resto quando me atrevo a servir-me de um desses aparelhos, desisto logo. Entre as razões está a que não compreendo absolutamente a numeração das moças do telefone. Se digo seis qualquer coisa, a telefonista imediatamente me corrige: meia dúzia qualquer coisa. Não quero expor a minha sabedoria em elementos de aritmética; mas meia-dúzia é uma coisa, pois nunca vi, dizer meia dúzia vinte e sete e sim seiscentos e vinte e sete.
Esta é uma das minhas quizílias com o telefone. Uma outra é a tal história: “está em ligação”; e há mais.
De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
Das muitas inutilidades que, para mim, está cheia esta vida, o telefone é uma delas. Passam-se anos e anos que não ponho um fone ao ouvido; e, de resto quando me atrevo a servir-me de um desses aparelhos, desisto logo. Entre as razões está a que não compreendo absolutamente a numeração das moças do telefone. Se digo seis qualquer coisa, a telefonista imediatamente me corrige: meia dúzia qualquer coisa. Não quero expor a minha sabedoria em elementos de aritmética; mas meia-dúzia é uma coisa, pois nunca vi, dizer meia dúzia vinte e sete e sim seiscentos e vinte e sete.
Esta é uma das minhas quizílias com o telefone. Uma outra é a tal história: “está em ligação”; e há mais.
De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
– Sete meia dúzia três, Vila.
– ?
– Sim, minha senhora.
Durante cinco minutos a dama troca com a invisível Alice frases ternas e dá risadinhas. Perguntei a um negociante da minha amizade:
– Que querem essas moças tanto com o telefone?
– Não sei. Há dias que é um nunca acabar... Formam uma fileira que nem em bilheteria de teatro em dia de espetáculo... Na semana passada, quase perdi um negócio urgente e do meu interesse, porque tive de esperar que mais de vinte “freguesas” dessas, dessem o seu recadinho ao aparelho... Levaram, todas, cerca de meia hora ou mais.
– Então é por isso que os jornais tanto nos atazanam com essa questão do telefone, de Líght? Servem as senhoras ...
– Qual o que! fez o negociante.
– Então, porque é?
– A questão é o preço do aluguel dos aparelhos e essas meninas são freguesas de graça que, às vezes até, nada compram na casa.
Fica, para mim, ainda insolúvel essa questão de telefone.
Marc Ferrez, Largo de São Francisco de Paula, 1895 (o prédio maior existe até hoje e abriga o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, onde estudei nos anos 70).
Marc Ferrez, Praça Dom Pedro II, antigo Largo do Paço e atual Praça Quinze de Novembro, 1895 (a igreja da direita é da Ordem Terceira de N. S. do Carmo; à sua esquerda, a Igreja de N. S. do Carmo da Antiga Sé, recém-restaurada, ainda sem a torre alta acrescida em 1905; e mais à esquerda, o antigo Convento do Carmo, uma das construções mais antigas da cidade, hoje galeria de arte da Universidade Cândido Mendes).
Marc Ferrez, Revolta da Armada, 1893 - A Revolta serve de pano de fundo para a terceira parte de Triste fim de Policarpo Quaresma. No seu capítulo 2 escreve o autor: "Com o tempo, a revolta passou a ser uma festa, um divertimento da cidade... Quando se anunciava um bombardeio, num segundo, o terraço do Passeio Público se enchia. Era como se fosse uma noite de luar, no tempo em que era do tom apreciá-las no velho jardim de Dom Luís de Vasconcelos, vendo o astro solitário pratear a água e encher o céu. Alugavam-se binóculos e tanto os velhos como as moças, os rapazes como as velhas, seguiam o bombardeio como uma representação de teatro: “Queimou Santa Cruz! Agora é o ‘Aquidabã’! Lá vai!” E dessa maneira a revolta ia, familiarmente, entrando nos hábitos e nos costumes da cidade."
19 comentários:
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