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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Transição Luís Queirós

Eles e Nós

Quando alguma coisa corre mal, por exemplo, uma enchente que destrói habitações, um tornado que levanta telhados e arrasa culturas, um buraco na estrada que provoca o acidente, ou o mar que galga as protecções costeiras, logo alguém vem dizer “eles não cuidaram”, “eles não arranjaram”, “ eles não construíram”, “eles não defenderam”. Há sempre, nestas situações, um culpado, ou culpados, normalmente referido na terceira pessoa do plural: os culpados são “eles”. E, por que há culpados, exige-se a reparação, pede-se que alguém nos dê a casa que o fogo destruiu, pois a ela temos direito, ou que nos paguem os estragos da intempérie que nos destruiu as colheitas. Sim, se foram “eles” os culpados, então “eles” que suportem o prejuízo.

Ora, interessa investigar esta acusação, e tentar perceber a sua génese. Na minha opinião, a explicação está na percepção que temos da fronteira entre o individual e o colectivo. Para muitos de nós existe aquilo  que consideramos que é nosso, e existe a "coisa pública", que normalmente achamos que não é nossa, e que, por isso, não temos de a cuidar. Talvez por isso, o comum dos portugueses aceita naturalmente que pode sujar a rua, mas não aceita sujar a sua casa.

Mas se exigimos d"eles" os nossos direitos, não agimos da mesma forma quando se trata de cumprir os nossos deveres. Fugir ao pagamento dos impostos, é, para muitos, uma coisa natural, quase como uma façanha da qual nos vangloriamos com a satisfação de ter enganado o Estado, da mesma forma de que nos gabávamos do “copianço”, nos testes ou dos exames dos nossos Liceus ou Escolas. Não pagar impostos, ou pagar o mínimo, é visto quase como uma dever para muitos de nós. E quanto mais ardilosa for a fuga, mais aplaudido e considerado é o infractor.

Quando ficamos de baixa sem motivo, quando recorremos a esquemas para não pagar Iva ou pagar menos IMI, ou quando aceitamos o pequeno favor, a troco de uma gorjeta, afinal não estamos apenas prejudicar o Estado, estamos a prejudicar o nosso vizinho que paga impostos, e estamos a prejudicar-nos a nós próprios.
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