Chuvas, Tragédias e o Código Florestal | ![]() | ![]() | ![]() |
Escrito por Giovana |
Qui, 10 de Fevereiro de 2011 10:37 |
![]() As chuvas fortes são um fenômeno natural, principalmente no período de verão até as musicalmente conhecidas águas de março. No Rio de Janeiro tivemos graves ocorrências em espaços de 22 anos: em 1966, 1988 e 2010. Porém, é inegável que as mudanças climáticas em curso por todo o planeta já estejam modificando a freqüência e a intensidade desses eventos da natureza. O Governo Federal divulgou semanas atrás relatório no qual registra 473 vítimas fatais das chuvas de 2010. As principais tragédias atingiram as cidades de Angra dos Reis, Niterói e do Rio de Janeiro, assim como os estados de São Paulo, Pernambuco e Alagoas, num total de 1211 municípios em todo o país. Porém, as chuvas que atingiram os municípios serranos de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo já somam mais de 500 mortos e se apresentam como a maior tragédia natural da história brasileira. Os investimentos federais na reparação de danos causados por esse tipo de ocorrência são infinitamente superiores que os destinados à prevenção. Em 2010, foram R$ 1,84 bilhões após as ocorrências, contra meros R$ 128 milhões para evitá-las. Mesmo assim, a maioria da população atingida – especialmente os mais pobres – continua a viver em abrigos e em condições extremamente precárias. Aparentemente alheio a essa realidade, o Congresso Nacional aprovou relatório do Deputado Aldo Rebelo que propõe alteração de medidas de proteção às florestas presentes no Código Florestal brasileiro. O relator defende a diminuição das Áreas de Preservação Permanente – APPs nas margens dos rios dos atuais 30 metros para 5 metros, assim como a possibilidade de municípios diminuírem outras APPs, como a que estabelece restrições à ocupação de encostas. Alguns Estados da federação, assim como inúmeros municípios, já adotaram leis que diminuem essas dimensões, numa expressa violação constitucional. É o caso de Petrópolis. Os prefeitos são os maiores defensores da abolição do Código Florestal em áreas urbanas. E assim se posicionam em aliança com o mercado imobiliário, que busca a “otimização” máxima do território para a construção civil. Mas contra fatos não há argumentos. E as imagens registram com muita precisão que as áreas atingidas pelas chuvas da região serrana do Rio de Janeiro são exatamente as margens de rios, as encostas e os topos de morro, que se constituem sob o regime de preservação permanente. O que se busca proteger com a preservação dessas áreas é exatamente a segurança da população. Mas a sede do mercado imobiliário, gerenciada por pseudos governantes, aliada ao descaso com o crescimento de ocupações irregulares, resulta na conhecida receita para a produção permanente de acidentes fatais. Resta saber se, depois de mais essa tragédia no início de 2011, declarado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional das Florestas, o Congresso Nacional irá sacramentar esse atentado contra a sociedade e o Código Florestal brasileiro. * Rogério Rocco é Mestre em Direito da Cidade e Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Natureza e trabalhou no Ministério do Meio Ambiente na gestão da Marina Silva. |
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