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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Rosana Hermann

O luxo da simplicidade (Rosana Hermann) Durante as férias de janeiro fiquei vários dias na praia de Barra do Una, no litoral norte de São Paulo, que frequento há 17 anos. Encontrei um casal de amigos e fomos, meu marido, eu e eles dois, para um passeio de barco até as ilhas próximas da costa. O barqueiro não era apenas um marinheiro, era o dono do barco, um homem de uns quarenta anos, magro, pele muito bronzeada e com um ar de contentamento incomum. Antes de começarmos o passeio, meu marido perguntou se ele morava ali mesmo, na praia. Com um sorriso rasgado ele respondeu: - Graças a Deus! Ao longo do passeio pelas ilhas, intercalado por momentos inesquecíveis de mergulho, nadando junto com cardumes de peixes, ele foi contando sua história. Há três anos ele largou tudo, uma vida estressante em São Paulo como empresário, 93 funcionários e 120 quilos e veio morar na praia. Disse que vive bem, que tem tudo, não precisa de mais nada. Durante três dias por semana, ele mora na Ilha Montão de Trigo, onde 60 pessoas de uma mesma comunidade vivem isoladas. Quando ele sai, como hoje, a população cai para 59. Lá não há luz elétrica, apenas um gerador que funciona com coletor solar. Eles vivem da pesca e do que produzem. Contei a ele que vi uma foto de um cesto de cipó feito na ilha e ele me explicou que eles usam esses cestos dentro da água, para manter os peixes pescados bem vivos e disponíveis para as próximas refeições. As aberturas do cesto permitem que os pequenos peixes entrem para servirem de comida para os peixes grandes. Fiquei pensando muito nisso. Para nós, workaholics, viver na praia é só uma ideia. Mas tem gente que consegue transformar essa ideia em realidade. Quando perguntamos se ele voltaria a morar em São Paulo ele respondeu: - Não...aqui eu tenho tudo...e como peixe todo dia... Em alto mar, ele jogou uma isca numa vara de pescar. Pegamos um peixe. E ele o jogou de volta no mar, pedindo desculpas. Não sei se foi o balanço do mar, o sol ameno, o vento constante, a visão do alto da pedra, a visita aos cardumes de peixes coloridos, mas fiquei pensando no luxo que é a natureza. E na beleza contida na simplicidade de viver feliz. (Rosana Hermann)

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