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sábado, 26 de março de 2011

Meio ambiente

Um Artigo de Silvio Marchini: O Brasileiro e as Florestas

Silvio Marchini é doutor em Conservação da Vida Silvestre, fundador da Escola da Amazônia. E-mail: silvio@escoladaamazonia.org
Texto do fundador da Escola da Amazônia publicado no site “O Eco Amazonia“.
Palestrante do TEDx Amazônia, Silvio Marchini, desenvolveu um texto relevante sobre o relacionamento do homem com a floresta, seus erros e a busca por mudanças que venham defender o meio ambiente. O texto não apenas denuncia, mas também propõe soluções, entre elas a sustentabilidade, para que possamos melhor conviver com nossas florestas.
Leia alguns trechos  ou leia o texto completo no site:
“O Brasil é o país das florestas. Com cinco milhões de quilômetros quadrados de cobertura florestal, concentrados na Mata Atlântica e principalmente na Amazônia, o Brasil possui a maior extensão de matas tropicais do planeta. Além de serem vastas, nossas florestas abrigam uma biodiversidade excepcional. Em apenas um hectare de Mata Atlântica é possível encontrar mais de 450 espécies de árvores; um recorde mundial. Nada mais natural que o Brasil seja o único país no mundo cujo nome vem de uma árvore: o pau-brasil (madeira com cor de brasa). Mas isso não quer dizer o brasileiro seja um amante incondicional de suas árvores e florestas. O Brasil é também o país do desflorestamento. A Mata Atlântica foi reduzida a 8% da sua cobertura original e é hoje uma das florestas mais ameaçada do mundo. Na Amazônia, uma área de floresta equivalente a três vezes o tamanho do estado de São Paulo foi convertida em pasto ou plantação nos últimos 40 anos.
Mudanças climáticas, grandes obras de infraestrutura e um projeto de lei que altera o código florestal ameaçam dar novo impulso à destruição das florestas. Herdeiros das maiores e mais diversas matas tropicais do planeta, muitos brasileiros ainda assistem indiferentes ao desaparecimento de seu mais valioso patrimônio natural. Enquanto os esforços para conter o desmatamento se concentram em medidas legais e econômicas, o elemento humano – o indivíduo – e as razões por trás de seu comportamento de derrubar a floresta, protegê-la, ou assistir indiferente à sua destruição, tem sido ignorado nas políticas de conservação e de desenvolvimento.”

“Em seu nível mais fundamental e universal, nossa resposta comportamental ao ambiente foi moldada pela evolução. Cada espécie de animal tem seu ambiente preferido, onde suas adaptações lhe permitem prosperar. De acordo com a Hipótese da Savana, nossos ancestrais que viveram nas planícies da África teriam desenvolvido uma preferência inata por paisagens abertas e com árvores esparsas, onde era mais fácil coletar vegetais e avistar e seguir os bandos de ungulados de grande porte que lhes serviam de caça. Essa preferência ainda estaria presente no homem moderno e evidências disso vão desde a prevalência desse tipo de paisagem em pinturas clássicas e parques urbanos até o resultado dos testes em que pessoas de diversas partes do mundo escolheram a paisagem mais atraente entre fotos de savanas com árvores, campos limpos e florestas fechadas. Segundo essa visão, somos animais da savana.
Não somos uma espécie florestal. Claro que alguns povos se estabeleceram em ambientes florestais, mas usando a floresta apenas como fonte de alimento e de outros recursos, preferindo construir suas moradias e fazer suas refeições e rituais em terreiros a céu aberto, como faz a maioria dos índios brasileiros. São poucos os povos que vivem permanentemente debaixo do dossel fechado da floresta e, como mostra Jared Diamond em Armas, Germes e Aço, o estilo de vida coletor-caçador dos legítimos povos da floresta os condena a uma dieta pobre em energia e, em última análise, a viver em grupos pequenos e incapazes de se desenvolver tecnologicamente (a floresta é incompatível com as duas invenções que levaram ao surgimento das civilizações: agricultura e criação de animais domésticos). Haveria, portanto, um fundamento biológico para o comportamento humano de evitar a floresta, e esse impulso ancestral talvez fosse a base para nossa relação predatória com ela.”
“Em suma, o comportamento humano em relação às florestas é influenciado por fatores genéticos, pessoais, sociais e culturais. Embora essa influência seja eventualmente fraca e nem sempre decisiva, ela não deveria ser ignorada nem ofuscada pelo poder das imposições legais e econômicas. Em vista da dificuldade de se fazer cumprir a lei nas regiões mais remotas do país, e da limitação das abordagens econômicas para tornar a floresta mais rentável em pé do que derrubada, as estratégias para a conservação das florestas no Brasil deveriam incluir ainda as dimensões humanas da relação entre o brasileiro e as florestas.
O futuro sustentável das florestas vai exigir, no entanto, a adoção de um novo paradigma cultural no qual as motivações para a conservação não sejam apenas legais, econômicas e ecológicas, mas também afetivas, estéticas, culturais, espirituais e éticas. Esse novo paradigma ainda deverá ser devidamente desenvolvido e aplicado e, portanto, dependerá da disposição das próximas gerações em mudar a maneira como se relacionam com a floresta. Precisamos incluir as crianças e jovens brasileiros nesse esforço, e desenvolver abordagens efetivas para transformá-los em cidadãos que se relacionam de forma responsável com as florestas. Iniciativas com esse objetivo já existem.”
créditos, link aqui.

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