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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cultura Popular Brasileira - Carnaval

Vamos entender a origem da dança do Mestre Sala e da Porta Bandeira.
            Da junção, num primeiro momento, dos povos formadores da nossa nação: índios, portugueses e negros, iniciou-se desde então a este período de “colonização” a choques étnicos culturais,e desta mescla de conflitos de religião, costumes, conduta e formação social, é que devemos o Brasil de hoje.
Na dança, na música, na pintura, enfim, em todas as formas de arte brasileira encontramos o traço destes povos sensivelmente inseridos.
Na música, nas melodias trazidas da Europa, na percussão, nas entoadas dos índios, nas curimbas e percussão do negro devemos a formação do nosso ritmo mais conhecido, tanto no Brasil, como no mundo: O SAMBA.
Nas manifestações populares o samba contribuiu para outra paixão ncional, na formação e na origem do CARNAVAL que conhecemos hoje. Pois é sem dúvida alguma, a nossa identidade mais forte, em se tratando de Brasil, como para o mundo todo.
O ambiente formador do carnaval são as ESCOLAS DE SAMBA, mais do que um ambiente a Escola de Samba é um modelo social. A interação entre seus componentes parte apenas da vontade de se divertir, cantando e dançando. Não existe um padrão hierárquico social: o indivíduo se distingue por ter mais ou menos habilidade para dançar, cantar  ou tocar algum instrumento. As pessoas dos mais diferentes níveis, universitários ou com apenas a educação elementar encontram-se com empresários, médicos e tantos outros, em uma grande salada.
À semelhança do que acontece com os times de futebol, as Escolas de Samba contam com grandes torcidas, e, como eles, possuem cores específicas.
Escola de Samba na verdade é uma espécie de clube, cujo objetivo principal é o desfile de carnaval. A escola possui dois lugares distintos: a quadra(sede) e o barracão. Na quadra acontecem as disputas para a escolha do samba enredo, é onde se fazem os ensaios, quando os componentes aprendem o samba e dançam. O barracão é o lugar onde se prepara o desfile para o carnaval.
Na Escola de Samba, assim como no Brasil, não se define um tipo para o brasileiro, não há como definir uma categoria social ou racial específica, podendo parecer japonês, alemão, árabe, português, africano, índio, italiano, ou a mistura de dois ou três deles, do mesmo modo, o freqüentador da Escola de Samba não pode ser definido.
Talvez seja a mais perfeita integração entre as diversas camadas sociais da população. O que vale é o talento, talento para dançar, cantar, evoluir, em uma grande tenacidade para ganhar o campeonato.
No carnaval, dentro desta manifestação considerada a maior do mundo, o maior teatro à céu aberto, ou ainda o maior espetáculo da terra, este por sua vez possui algumas particularidades como data certa para acontecer. Neste período há desfiles promovidos por uma ou mais escola de samba, cada uma destas escolas com uma comunidade própria. Dentro destas comunidades podemos destacar algumas figuras importantes para que aconteça estes espetáculos em forma de desfile como: COMISSÃO DE FRENTE, PORTA ESTANDARTE, O INTÉRPRETE(cantor), ALEGORIAS, ALA DE BAIANAS, BATERIA, ALAS, PASSISTAS e o CASAL DE MESTRE SALA E PORTA BANDEIRA.
Todos eles possuem importância vital para cada Escola de Samba.
Mas o casal que porta a bandeira símbolo de cada uma possui uma especialidade a parte. Pois , pensem ,se o Brasil fosse uma “Grande Escola de Samba”, como referenciaríamos o casal que carregasse o nosso símbolo maior?
Sem duvida eles são a essência das agremiações que representam.
 
Vejamos o que a consagradíssima carnavalesca da Imperatriz Leopoldinense do Rio de Janeiro, Rosa Magalhães escreveu em seu livro “FAZENDO O CARNAVAL” sobre a dupla de Mestre Sala  e Porta Bandeira:
 
“ A parte mais representativa da Escola de Samba é o casal de Mestre Sala  e Porta Bandeira. Tem a grande responsabilidade de representar o conjunto de todos os participantes. Eles são a essência mesmo da Escola, a raiz mais compacta de uma entidade carnavalesca.
A bandeira de cada agremiação tem tanta importância que se costuma beijar sua borda, oferecida pelo Mestre Sala quando se é uma visita ou em sinal de respeito. Existe todo um cerimonial que envolve a bandeira e o casal.
Cada uma destas bandeiras tem um desenho próprio e as cores são sempre as da escola, e essa decoração também possui simbologias.
A dança é muito importante. O Mestre Sala  executa uma coreografia com duas finalidades: cativa a Porta Bandeira e ao mesmo tempo protege o pavilhão que ela carrega. Os trajes podem ser alusivos ao enredo ou tradicionais como as damas da corte de Luís XV. A Porta Bandeira sobretudo, deve estar muito bem vestida, inclusive por que o julgamento tem-se em conta não só a dança como o traje. Não há o que inovar neste setor.”

Reflexões sobre o casal de Mestre Sala , Porta Bandeira e Porta Estandarte
Historicamente a dança do Mestre Sala  e da Porta Bandeira é sem dúvida formada na época da escravidão do povo africano. Onde se uniram as danças dos ritos e rituais aos orixás(pois é indiscutivelmente a dança característica desta etnia) pela apreciação dos negros escravos pela dança da corte européia, que analisavam cuidadosamente(quando podiam) os passos dos nobres, que bailavam ao som do Minueto, e após, na senzala, esses negros repetiam, de sua forma a dança vista na casa grande, caricata, pois diferente dos seus senhores e senhoras, não praticavam nem freqüentavam as aulas de dança, para os famosos saraus. 
No século XVIII, os saraus na corte e Luiz XV dão o exemplo de classe e graça das danças francesas. Mais adiante os saraus em terras brasileiras ganham expectadores muito atentos que, da senzala, apreciam os gestos feitos pelo mestre de cerimônias na abertura dos salões e condução dos casais. A seguir montam sua própria roda de dança e jocosamente, refletem todo o gestual, numa caricatura da corte. Por conseguinte as vestimentas do Mestre Sala e da Porta Bandeira se inspira na indumentária da época. E os passos do casal jamais lembra o samba, mas a aristocrática dança dos salões.  

Até o início dos anos 30, a porta bandeira precisava de proteção, sendo a personagem mais visada nas disputas entre as Escola de Samba, por estar na guarda do pavilhão, galhardão maior. Um Mestre Sala  de uma escola rival, com uma navalha tentava se aproximar da Porta Bandeira para retalhar a bandeira ou o estandarte. A partir daí, os sambistas passaram a confeccionar tanto a camisa do Mestre Sala  quanto a bandeira em cetim ou seda dificultando o corte. A partir de então a luta passou a ser simbolizada: um Mestre Sala  tomava a mão da Porta Bandeira da escola adversária. Ela seguia dançando até a sede do vencedor, obrigando o seu Mestre Sala a acompanha-la para uma resgate amigável.
Esta história vem desde os primórdios das escolas de samba, quando estas eram chamadas de ranchos carnavalescos, e a dupla era conhecida por baliza e porta estandarte.
O baliza, hoje Mestre Sala , tinha a incumbência de defender sua companheira e o estandarte por ela carregado, uma vez que esta peça corria o risco de ser arrebatada por componentes de outros grupos desfilantes rivais.
O “roubo” ocorria, normalmente, no clima da euforia momesca, quando as agremiações se apresentavam e os Mestre Salas, desenvolvendo o bailado se descuidavam da proteção da Porta Bandeira.
As Porta Estandartes, hoje Porta Bandeiras, contavam ainda com outro tipo de proteção(os chamados porta machados), exercidas por garotos que ficavam ladeando a “protegida”. A garotada foi aos poucos sendo substituída nas escolas de samba pelas chamadas “bainas-de-linha”, na verdade homens fantasiados de baiana, com navalhas presas às pernas, que ficavam nas laterais das escolas exercendo a função de protetores.
A partir da oficialização das Escolas de Samba, o Mestre Sala e a Porta Bandeira tornaram-se os principais personagens da escola que defendem.
Ramon Carvalho

 
Há estudos mais profundos sobre o assunto, para entendermos a importância de tanta simbologia, o pesquisador Ilclemar Nunes no “ESTUDO DE MESTRE SALA E PORTA BANDEIRA, MANEIOS E MESURAS”, foi buscar as origens da dança da dupla, no ritual praticado pelas meninas moças africanas, quando da preparação para o casamento e nos atos dos rapazes guerreiros, que se apresentavam como candidatos à disputa das moças, dançando.
Pesquisas outras consideram que as porta estandartes dos ranchos carnavalescos teriam raízes bem mais remotas, pois, no tempo da colônia, os escravos conseguiam identificar as tribos africanas de outros grupos, durante festas populares ou durante sepultamento de negros importantes, que por meio de pedaços de pau, ao qual aqueles negros prendiam fragmentos de pano com cores representativas (bandeira).
Nos cortejos da Rainha e do Rei do Congo, um negro sem camisa e descalço carregava um mastro com um pano colorido na ponta, era o Porta Estandarte do cortejo real.
Nas festas do Imperador do Divino, que se apresentava nos domingos de Páscoa , o Imperador eleito saia pelas ruas com uma corte numerosa tendo a frente o "Alferes da Bandeira" carregando o pavilhão do Divino, e o estandarte era respeitosamente beijado, como fazemos hoje com as bandeiras das Escolas de Samba assim como em toda manifestação sócio cultural do negro estava presente o porta-bandeira. Acreditamos que este seja os primórdios dos atuais Mestre-Sala e Porta-Bandeira.
Os Blocos e os Ranchos desfilavam com Porta Estandarte e Baliza que tinha que dançar e ficar atento a qualquer movimento, já que qualquer distração poderia ser fatal e terminar com sua carreira. Perder a porta Estandarte e o Pavilhão para o Baliza da agremiação rival, era a maior humilhação, o pavilhão só seria recuperado no ano seguinte quando tinha que ir buscar no local de ensaio do bloco realizador da façanha, via de regra nestas ocasiões o pau comia solto aos gritos de "Enrola o pano" ou seja enrola o Pavilhão.
O saudoso Juvenal Lopes que foi meu Presidente na Mangueira, era no início da década de 30, o Baliza da Deixa falar.
Segundo depoimento de Cartola e Carlos Cachaça, foi o velho Maçu quem introduziu e primeiro desfilou como Mestre-Sala nas Escolas de Samba, aprendeu com o famoso Hilário Jovino Ferreira, o Laiu de Ouro, com o Getúlio Marinho e Teodoro, ases na coreografia elegante, cheia de arabescos com que conduziam a Porta-Estandarte. Com um lenço branco nas mãos ou um leque que os balizas usavam nos Ranchos e Blocos, e o Mestre-Sala incorporou, os personagens sugeriam figuras buscadas na Corte Real e a coreografia era sóbria de elegância e finura.
Perdemos muito desta raiz, embora alguns ainda mantenham a leveza de um bale, hoje as evoluções acrobáticas, a coreografia desenvolta compromete a elegância do Mestre-Sala e não é conduzente com o seu trajar.

OUTROS FATOS IMPORTANTES:
-         Era costume nos primórdios, homens carregarem os estandartes dos cordões carnavalescos, crendo-se que uma das primeiras Porta Bandeiras, isolada tenha sido Portela, mas na verdade foi um homem chamado Ubaldo. Ele empunha o símbolo da agremiação na guarda de honra, que era adotada na época.
-         Nos ranchos carnavalescos uma figura feminina exerceu o papel de Mestre Sala, Maria Adamastor, famosa por suas excelentes atuações, tendo se tornado bastante conhecida nos carnavais do Rio de Janeiro. Jota Efegê, diz que a Deixa Falar, tida e havida como a primeira Escola de Samba, só incorporou a figura(personagem) do Mestre Sala, que foi Benedito Trindade, quando tentou se tornar um rancho.
-         Juvenal e Ceci, segundo alguns estudiosos, formaram o primeiro par de Mestre Sala  e Porta Bandeira da primeira Escola de Samba carioca, a Deixa Falar. Segundo outros Maçu (Mangueira), o Marcelinho José Claudomo, foi o introdutor de Mestre Salas nas Escolas de Samba.
-         Os percussores da inovação dos ranchos foram Hilário Jovino Ferreira, Getúlio(Amor) Marinho, Maria Adamastor, Antônio Farias( o Bull-dog ). Getúlio de Pava (Bororó), Teodoro(Massadas) e João Paiva Germano. 

Todos os créditos à

S.C.B.C. IMPÉRIO DO SOL


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